sexta-feira, 24 de abril de 2015

Tsunamis cósmicos ressuscitam as galáxias mortas


Fotografia © D.R.

Descoberta foi feita por equipa internacional liderada por um investigador português.

Uma equipa internacional de astrónomos, coliderada pelo português David Sobral, descobriu que galáxias mortas ressuscitam quando ocorre um mega 'tsunami cósmico', uma onda de choque gigante que se forma numa colisão frontal de enxames de galáxias 'supermassivas'.

Em declarações à Lusa, David Sobral, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), explicou que, quando voltam de novo à vida, por um período "breve", mas que, em astronomia, corresponde a cerca de mil milhões de anos, as galáxias "acabam por gastar todo o gás que lhes restava".

No caso em concreto, a equipa estudou imagens de uma onda de choque com perto de cinco milhões de anos-luz. Os 'tsunamis cósmicos' propagam-se "a enormes velocidades", de cerca de sete milhões de quilómetros por hora.

Justificando a relevância da descoberta, David Sobral disse que, ao contrário do que se pensava, "que as galáxias em enxames estão sempre mortas", a colisão de "grandes enxames pode fazê-las voltar à vida", tendo os 'tsunamis cósmicos' um papel fundamental neste processo.

Contudo, ao serem ressuscitadas, adiantou, as galáxias acabam, após milhares de milhões de anos, por "se matar a elas próprias", ao gastarem "o pouco combustível que lhes resta", e também "devido a muitas estrelas que explodem como supernovas" e expulsam "muito do gás que se perde igualmente no enxame, e já não volta".

Segundo o astrónomo, o processo causado pela onda de choque gigantesca "pode, até, ser uma das causas de as galáxias em enxames acabarem por ser tão vermelhas e estar mortas".

Os enxames de galáxias são "cidades" de galáxias, em que milhares destas podem coexistir num espaço relativamente "pequeno", descreve o IA em comunicado.

Contudo, nos enxames, a maioria das galáxias está morta, uma vez que "tem uma evolução muito acelerada, desde muito cedo, formando estrelas e consumindo o gás a uma taxa insustentável", esclareceu David Sobral à Lusa.

Ao passar pelas "cidades de galáxias" quando se fundem, a onda de choque "comprime qualquer gás que as galáxias tenham", referiu, sublinhando que é graças a esse gás comprimido, e à turbulência, que se formam mais estrelas.

"O que vemos é que, depois da passagem da onda, as galáxias começam todas a formar imensas estrelas", afirmou.

A equipa liderada por David Sobral, e também por Andra Stroe, do Observatório de Leiden, na Holanda, socorreu-se de dados dos telescópios Isaac Newton e William Herschel, dos Observatórios das Canárias, em Espanha, e dos telescópios Subaru e Keck, no Havai, Estados Unidos.

O grupo está agora a fazer um levantamento de vários enxames gigantes de galáxias em colisão para perceber se o mesmo fenómeno ocorre em todos ou se, em alguns, a onda de choque pode ter um efeito menos acentuado.

Os resultados da investigação foram hoje publicados na revista Monthly Notices, da Royal Astronomical Society, organização centenária britânica que apoia a investigação em astronomia.


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