segunda-feira, 15 de junho de 2015

Gasparzinho 'vive' no IPO de Lisboa para interagir com as crianças




Chama-se MBOT mas, para os amigos, é o Gasparzinho, que anda pelo IPO a fazer sorrir as crianças doentes.

Na pediatria do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa 'vive', há cerca de um ano, o Gasparzinho, um pequeno robô social construído para interagir com as crianças, num projeto coordenado pelo Instituto Superior Técnico (IST).

Gabriel, de seis anos, corre atrás do pequeno robô, corredor acima, corredor abaixo, até ficar cansado. O menino sorri quando o Gasparzinho lhe sorri, lhe pisca o olho ou lhe estende a mão. E fala com ele, como se de um amigo verdadeiro se tratasse.

"Ele não fala muito. Diz olá e não percebo a outra palavra", disse o menino à Lusa.

No entanto, quando chegou ao IPO, há quase um ano, o robô, que parece saído de uma série de ficção científica, ainda fazia menos coisas e chamava-se MBOT. Foi já no instituto que alguém o humanizou como Gasparzinho e o nome pegou.

Desde então, os técnicos têm estudado a relação do aparelho com as crianças e feito pequenas modificações que melhoraram as suas capacidades sociais.

"A receção aqui no IPO, a todos os níveis, desde as crianças, o 'staff', os próprios pais, tem sido extraordinariamente positiva. A nossa vontade é continuarmos a desenvolver este tipo de atividade, porque o 'feedback' é fantástico", afirmou João Sequeira, do IST, responsável pelo projeto.

João Sequeira realçou que o robô ainda não tem todas as suas capacidades em funcionamento.

No futuro, os técnicos pretendem que possa projetar um tabuleiro no chão e jogar um jogo com duas ou três crianças, além de controlar os meninos que muitas vezes usam o corredor para correr ou andar de triciclo.

Outra vertente "é servir de auxiliar na sala de aulas [o IPO tem uma sala de aulas com três professores], ajudando em pequenas coisas os professores", acrescentou.

Regra geral, as crianças reagem ao aparelho de acordo com o seu grupo etário.

"Há crianças muito pequenas que tendem a humanizá-lo imediatamente, a achar que ele é um de nós, há outros que ficam com dúvidas, portanto, há ali qualquer coisa, por um lado parece que sim, é um de nós, por outro lado não é. E depois há os maiores, que conseguem ter a sua distanciação", explicou Filomena Pereira, diretora da pediatria do IPO.

A responsável destacou que o projeto assume uma grande importância, porque combate o isolamento dos miúdos e estimula a "interação de grupo".

"A importância é, sobretudo, contrariar a tendência do isolamento nos seus próprios jogos, nos seus próprios 'gadgets' individuais, que os miúdos têm e que, quanto a mim, é extremamente preocupante em termos de construção da personalidade da relação interpessoal", salientou.

Filomena Pereira sublinhou que este é "um projeto complexo e muito ambicioso", porque também as relações humanas são complexas.

"Seria fácil se ele estivesse aqui a fazer rigorosamente a mesma coisa e a reagir de forma idêntica com todas as crianças. Mas a ideia é que ele estabeleça uma relação num padrão individual e penso que tem sido isso que tem feito demorar mais a evolução, até à conclusão do projeto", afirmou.

A figura do pequeno robô branco foi criada por designers, com base num inquérito e desenhos de 119 crianças e adolescentes de escolas portuguesas.

O MBOT, que agora é Gasparzinho para os amigos, é uma iniciativa integrada no programa europeu MOnarCH (Multi-Robot Cognitive Systems Operating in Hospitals), que envolve o Instituto de Sistemas e Robótica do IST e oito parceiros portugueses e europeus.


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