sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A profecia Maia


Experimente procurar por "2012 fim do mundo" numa barra de pesquisa da internet. O resultado será um número enorme de páginas. 

O assunto, que poucos anos atrás era praticamente desconhecido, virou febre. Segundo o Google, por exemplo, antes de 2008, poucas pessoas faziam a busca "2012 mayans" (Maias, em inglês). Em 2009, as buscas disparam e, em novembro daquele ano, eram seis vezes maiores do que em qualquer mês dos anos anteriores.

Mas essa "profecia" de que tudo acabará realmente existiu? Quais são os argumentos a favor do fim do mundo em 21 de dezembro de 2012? E os contra? Veja a seguir um pouco da discussão sobre essa história.


A profecia maia para 2012


Foi a chamada inscrição de Tortuguero que começou toda a confusão. Os fragmentos do texto escrito pelos maias indicavam que no fim da atual era algo relacionado ao deus Bolon Yokte ocorreria. 

O texto incompleto levou a diversas interpretações, principalmente por causa da estranha divindade citada, que é ligada tanto à criação quanto à destruição.

Então vieram as partes apocalípticas: falou-se em alinhamento do Sol com o centro da Via Láctea (que ocorreria a cada 26 mil anos), inversão dos polos magnéticos, que o planeta X (ou Nibiru) estaria em rota de colisão com a Terra, que ocorreriam tempestades solares...

Porém, a fonte dessas ideias está envolvida num mistério maior do que o real significado da "profecia" Maia. Para o astrónomo David Morrison, do Centro de Pesquisa Ames da Nasa, "pessoas estão sendo manipuladas e submetidas a medos com o objetivo único de propiciar lucros a terceiros". 


Hollywood faz um filme...


A disparada nas buscas do Google em 2009 não ocorreu por acaso. Nesse ano, as interpretações sem sentido da profecia Maia que dão lucro para aproveitadores também foram bem exploradas pelo cinema com o lançamento do filme 2012.

Na película, uma onda gigante foi representada de maneira tão exagerada que encobria montanhas. Além disso, caíam asteroides por todos os lados e continentes literalmente se desmanchavam.

Com que base científica foi criado todo esse apocalipse visual? Nenhuma. Mesmo assim, preocupou muitos leigos. "Dois adolescentes estavam pensando em se matar porque não queriam estar por aqui quando o mundo acabasse. 

E duas mulheres disseram que estavam pensando em matar seus filhos e cometerem suicídio para não terem de sofrer com o fim do mundo", conta David Morrison, cientista sénior do Instituto de Astrobiologia da Nasa, comentando e-mails recebidos pela agência.


...e irrita muito a Nasa


Segundo o porta-voz da Nasa Dwayne Brown, a agência espacial americana não comenta filmes. Mas quando o assunto é ciência...

"Consideramos que seria prudente oferecer uma base de recursos", diz.

O conteúdo do filme 2012 levou a diversas declarações da agência de que o mundo não acabaria tão cedo. Astrónomos (ligados à Nasa ou não), após verem suas caixas de e-mail lotadas de perguntas sobre a profecia Maia, falaram que aquilo não passava de "sandice" e que a tendência apocalíptica tinha passado dos limites.

Dois anos depois, a raiva da Nasa não havia passado. A agência decidiu criar uma lista - os filmes mais absurdos da história. A lista têm sucessos de bilheteria, como Armageddon, e é encabeçada, obviamente, por 2012.

E. C. Krupp, diretor do Observatório Griffith (não ligado diretamente à Nasa), em Los Angeles, chegou a dizer que o filme é baseado em "loucura pseudocientífica, ignorância em Astronomia e um alto nível de paranoia". 

"Os produtores aproveitaram-se de uma preocupação popular sobre o então chamado fim do mundo", diz Donald Yeoamans, cientista da agência espacial americana.


E as outras interpretações?


Além de atacaram o filme, cientistas resolveram desmentir as demais crendices sobre o fim do mundo de acordo com o calendário Maia. 

Sobre "alinhamento galáctico", por exemplo, David Morrison, da Nasa, afirma que em todos os solstícios (e 21 de dezembro é um solstício) o Sol parece passar no ponto médio da Via Láctea. 

Ou seja, o tal alinhamento que supostamente só acontece a cada 26 mil anos ocorre, de facto, todos os anos - e duas vezes! E não costuma gerar nenhum facto apocalíptico.

Além disso, David Stuart, especialista em povo Maia da Universidade do Texas e um dos principais críticos da interpretação apocalíptica da profecia, diz que "nenhum texto ou arte dos antigos Maias faz referência a qualquer coisa do tipo".

Planeta X em rota de colisão, erupções solares e outras previsões ligadas ao mito Maia também são desmentidas por especialistas.


Afinal de contas, porquê 2012?


Os Maias gostavam muito de criar ciclos de tempo. E isso não se resume apenas a dias, meses, anos. Estamos a falar de milénios - e mais. Um dos maiores ciclos dos Maias era o Baktun. Cada um desses tinha aproximadamente 400 anos.

E 13 Baktuns correspondiam a uma Grande Contagem, ou 5125 anos. A última Grande Contagem começou em 11 de agosto de 3114 a.C.. Sabe quando vai acabar? Pois é: 2012, por volta de dezembro - no dia 21, segundo boa parte dos especialistas em Maias, ou no dia 23, segundo outros.

De acordo com Carlos Pallán, diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maya (Ajimaya) do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México, as primeiras interpretações apocalípticas da inscrição de Tortuguero ocorreram nos anos 1970 em textos esotéricos.

Daí você junta uma profecia de difícil interpretação (até porque falta parte do texto), uma figura divina controversa (Bolon Yokte, o deus da criação e da destruição) e a internet e o que temos é o fim do mundo (ou pelo menos muita gente querendo convencer você de que ele vai ocorrer).

Para os cientistas que pesquisam a civilização Maia, 2012 é apenas o fim de um ciclo muito longo do calendário Maia e o começo de outro. Não há nenhum texto a dizer "o mundo acaba no fim da Grande Contagem".

Além disso, essa contagem é tão complicada que um cientista diz que o calendário Maia nem acaba em 2012, mas em algumas décadas.

Parecia que o assunto estava morto e enterrado. Mas se os zumbis estão na moda, por que a profecia de 2012 não pode ressurgir dos mortos também?


Uma nova referência


Em dezembro de 2011, quando organizava um conferência sobre a cultura Maia, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México comentou em seu site que existiam apenas duas referências ao suposto fim do mundo em 2012 entre os mais de mil textos Maias.

O problema é que, até agora, apenas uma referência era conhecida. A notícia foi destaque na imprensa internacional: sites de jornais como o Washington Post, o britânico The Telegraph, a rádio NPR (EUA), a TV Fox News e a agência AP, entre muitos outros, noticiaram que o instituto anunciava a existência de uma segunda referência ao 21 de dezembro de 2012.

Não se sabe muito do segundo texto. O México o deixa guardado e não se sabe de muitos cientistas que tiveram acesso a ele. 

David Stuart, especialista em cultura Maia da Universidade do Texas e um dos principais críticos da interpretação apocalíptica dessas profecias, diz que esse texto é menos apocalíptico ainda. 

Nem sequer há verbo no futuro, o que faz o cientista especular que seja apenas um registo de um facto importante do passado, sem relação com 2012.


A última interpretação


No evento da INAH, no México, os investigadores Sven Gronemeyer e Barbara Macleod, da Universidade La Trobe (Austrália), divulgaram uma nova interpretação sobre a profecia. O texto, segundo eles, diz que Bahlam Ajaw (612-679 d.C.), antigo governante de Tortuguero, será o anfitrião do retorno de um deus, exatamente Bolon Yokte.

"A aritmética do calendário Maia demonstra que o término do 13º Baktun representa simplesmente o fim de um período e a transição para um ciclo novo, embora essa data seja carregada de um valor simbólico, como a reflexão sobre o dia da criação", comentou Gronemeyer.

Segundo o epigrafista mexicano Erik Velásquez, para os escribas maias, a história como uma narração de eventos humanos foi uma preocupação secundária. 

Eles se centravam nos rituais de qualquer tipo, por isso, "as inscrições mostram relações complexas entre o tempo, as esculturas e os prédios". 

Mas por que era tão difícil interpretar esses textos? "Na antiga concepção Maia, o tempo se construiu tal como as esculturas e os prédios que as continham, os períodos tinham consciência, vontade, personalidade e se comportavam como humanos", acrescenta Velásquez.

Outra interpretação, do arqueólogo José Romero, especialista no sítio de Tortuguero - onde a inscrição foi achada -, é bem diferente: para ele, a inscrição é uma biografia de um governante local. Nenhuma interpretação recente fala em "fim do mundo". Parece o fim da polémica. Pelo menos por enquanto.

fonte: Terra

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