Na expedição de 2007, equipa de Martim Melo conseguiu gravar pela primeira vez o canto único do tordo-do-príncipe
Martim Melo rumou ao Príncipe em 2007, para estudar o tordo, com o apoio de instituições britânicas. Entre elas a Universidade de Edimburgo, onde nesse mesmo ano concluiu o doutoramento. Além de recolher exemplares da ave para os estudar, o biólogo fez uma contagem sistemática em 177 pontos da ilha para calcular a sua densidade populacional.
Pelas suas contas, restarão ali cerca de 180 casais (ou 360 indivíduos). "Seria interessante fazer novas contagens daqui a dois anos para avaliar a sua evolução", adianta.
Com a criação do Parque Natural de Obô e o apoio, em termos de formação ornitológica, de biólogos e técnicos de conservação em São Tomé, por parte da BirdLife International e da portuguesa Sociedade Portuguesa do Estudo das Aves (SPEA), essas futuras contagens poderão vir a ser feitas pelos próprios locais, segundo Martim Melo.
Quanto à nova espécie, os estudos genéticos mostram que o Turdus xanthorhynchus se terá separado em termos evolutivos da congénere de São Tomé há pelo menos quatro milhões de anos. "O tordo-de-são-tomé é castanho, tem patas e bico castanhos e é mais parecido com o congénere das ilhas Comores, que ficam a milhares de quilómetros, no Índico, do que com o tordo-do-príncipe", nota o biólogo.
Este último é mais pequeno, tem bico amarelo e auréolas amarelas nos olhos e, sobretudo, tem um canto único, diferente de qualquer outro canto de tordo até hoje ouvido. "Gravámos esse canto pela primeira vez", sublinha o investigador, que descreve o som como "um gorgolejo tímido e muito simples".
Classificada a nova espécie, Martim Melo continua a estudar aves em África. O seu objectivo agora é identificar as mudanças que ocorrem no genoma durante o processo de formação de novas espécies. E são ainda as aves de São Tomé e Príncipe que estão no centro das suas atenções.
fonte: Diário de Noticias
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