A inovação não é fabricada, existe em ambientes onde a ligação em rede é potenciadora. Inovação é o que falta a produtores e distribuidores de media, a repetirem o passado. Uma das muitas ideias discutidas no XX Congresso das Comunicações, que reuniu todos os operadores do mercado nacional para troca de experiências...tecnologia.
Da cólera ao GPS, da Web a Gutenberg, as ideias inovadoras não surgem num momento "eureka!" mas de um conjunto de factores que Steven Johnson, autor de Where Good Ideas come from, exemplificou no recente XX Congresso das Comunicações.
Johnson detectou um conjunto de padrões na emergência de ideias inovadoras, sendo o principal que "a sorte favorece as mentes conectadas" e que a intuição para algo novo surge nas formas mais bizarras.
Nos anos 40 do século XIX, Londres atravessou um período de perturbação por causa da cólera e do triunfo da teoria do miasma: uma nuvem venenosa infectava os cidadãos pelo ar.
Perante o rumor, o médico John Snow fez um mapa com a localização das mortes, falou com habitantes dessas zonas e - com a ajuda de Henry Whitehead, padre que passava as noites a beber cerveja e a falar com as pessoas (um "conector" com "inteligência social", salienta Johnson) - cruzou o mapa com as fontes de água.
A "epifania" de que o mal não estava no ar levou Londres a tratar a água e, por volta de 1860, a doença foi erradicada da cidade.
Exemplo mais recente é o de Tim Berners-Lee. Durante dez anos, tentou hiperligar e arrumar a sua informação pessoal, à semelhança do projecto Xanadu, de Ted Nelson, ou da Apple, com o HyperCard para os Macintosh.
Berners-Lee "começou aos poucos, sem saber o que ia fazer, era um projecto paralelo" ao trabalho no centro europeu de física nuclear CERN, mas é em "espaços interessantes" com trocas intelectuais que a inovação surge. Os inovadores têm também uma boa rede de contactos, com profissões diversificadas e uma cultura de partilha de conhecimentos.
Foi assim que Berners-Lee criou a World Wide Web, mas, se a tentasse controlar, "não seria o que é hoje", diz Johnson.
Se há inovações adaptadas - Gutenberg viu numa máquina de prensar uvas a forma de publicar Bíblias -, outras são inesperadas.
A 4 de Outubro de 1957, o lançamento do Sputnik levou, nos EUA, dois jovens a querer ouvir os sinais do satélite, que os soviéticos tinham deixado aberto para provar que não era mentira.
Eles determinaram a localização, velocidade e órbita, pelo que foram convidados para obter localizações na terra a partir de uma localização não definida (o objectivo era lançar mísseis contra Moscovo a partir de um submarino nuclear).
Foi assim que nasceu o sistema global de satélites GPS, com jovens a contribuir para a Guerra Fria mas que acabaram a ajudar pessoas a ir de uma cidade a outra. Até por estradas desnecessárias que justificam a frase do presidente da APDC, Diogo Vasconcelos: "Precisamos mais de inovação e menos de betão."
fonte: DN
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