O lobo da Tasmânia foi extinto da ilha australiana nos anos 30, mas investigadores planeiam cloná-lo para reintroduzir o animal na natureza
A reintrodução de espécies extintas (ou praticamente extintas) em determinadas regiões foi comum no ano de 2010. Foi o caso do castor, desaparecido da Grã-Bretanha por 400 anos e visto novamente após reintrodução numa floresta da Escócia. Também o lince ibérico (quase extinto em Portugal e na Espanha, país que tenta reintroduzir animais criados em cativeiro), o crocodilo siamês (Vietnam) e as chitas, que estavam desaparecidas na Índia, ganharam projectos similares. No caso da última espécie, o esquema de reintrodução sofreu críticas de especialistas que afirmam que, sem reintroduzir também as presas naturais das chitas, que foram erradicadas da Índia assim como o felino, a espécie não irá se proliferar no local.
Na opinião da bióloga Ellen Augusta Valer de Freitas, processos de reintrodução envolvem "variáveis imprevisíveis". "É pretensão ou ingenuidade humana querer trazer de volta espécies extintas naturalmente ou que ele mesmo ajudou a extinguir, sem um estudo das consequências dessa reintrodução", diz Ellen, que aponta algumas particularidades a serem observadas. "Animais extintos da natureza e que hoje só existem em zoológicos e centros de proteção podem ser reintroduzidos. Mas com os ambientes desequilibrados a tarefa torna-se difícil. A reintrodução deve levar em consideração as condições ecológicas de um ambiente e as interações desta espécie com as espécies actuais", explicou.
Ela esclarece que, quando uma espécie ou subespécie extinta há séculos, ou até milénios, é reintroduzida, o ecossistema pode sofrer. "A variabilidade genética deve ser levada em conta. Animais são extintos justamente por problemas genéticos causados pela redução significativa de sua espécie, ou por problemas ambientais locais, globais ou de acordo com a época em que viveu o animal em questão", disse. Ellen cita o panda da China como exemplo. "Embora exista em zoológicos, ele tem imensas dificuldades de reprodução e pequena variabilidade genética, o que causa doenças, dificuldades de reprodução e consequentemente a extinção. Pode-se dizer que animais como este, na prática, já estão extintos".
Associada à limitação genética também está a mudança dos ecossistemas, que coloca um grande ponto de interrogação nas formas de preservação, teoricamente beneficiadas por avanços da ciência, como a clonagem. "Se a clonagem pode trazer à vida um animal como o lobo da Tasmânia, a pergunta é se isso é benéfico para o animal em si e para o ecossistema em que ele viverá. Animais extintos há muito tempo viveram em ambientes distintos do actual. Eles tiveram interações com outros seres, alimentando-se de outros animais, plantas, etc., que hoje podem não existir mais", alerta a bióloga.
Ellen também lembra que a clonagem não prevê a variabilidade genética, tida como o combustível da evolução e da adaptação. "Existem clones naturais, mas toda introdução feita através do ser humano pode sim causar desequilíbrio no ecossistema que possui auto-organização. Clones podem existir, mas isso implica em responsabilidades éticas".
Para Freitas, o Brasil tem a tendência de reintroduzir animais mais "carismáticos" como aves e mamíferos. "As espécies que podem ser alvo desse trabalho são peixes, plantas, anfíbios e outras menos conhecidas da população, mas com importância ecológica. No Rio Grande do Sul o número de anfíbios em processo de extinção é alarmante. Há muitos trabalhos publicados, mas poucos projectos efectivos".
Histórias de sucesso
Mesmo assim, histórias bem sucedidas de reintrodução existem. Através de projectos de preservação, animais como a ararinha azul (Cyanopsitta spixii) e o gavião real (Harpia harpyja), praticamente extintos no Rio Grande do Sul, ainda podem ser encontrados na Amazónia.
Outro exemplo de inciativa de sucesso é a do Instituto Baleia Jubarte (Megaptera novaeangliae), também chamada baleia corcunda ou preta. Conhecida por seu temperamento dócil e acrobacias, a espécie só saiu da lista de animais ameaçados em 2008, e actualmente conta com 50 mil exemplares a viver nos oceanos. No Atlântico Sul Ocidental, a sua principal área de reprodução é o Banco dos Abrolhos, no litoral sul da Bahia. De Julho a Novembro, estas baleias procuram as águas quentes para acasalar e dar à luz um único filhote, que nasce após aproximadamente 11 meses de gestação.
Quem permanece na lista é a Baleia franca (Balaena mysticetus), segunda espécie de baleia mais ameaçada de extinção no planeta. Enfrentando dificuldades como a sobrepesca, a caça e a falta de educação ambiental, especialistas criaram uma Unidade de Conservação em Imbituba, no litoral de Santa Catarina. O Projecto Baleia Franca visa a conservação da espécie por meio de actividades de educação ambiental e observação dos animais quando eles se aproximam do litoral, nos meses de inverno.
Já o peixe-boi é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no País. Duas variações são encontradas no Brasil: o Peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e o Peixe-boi-da-amazónia (Trichechus inunguis). No passado, podiam ser vistos em toda a costa, do Espírito Santo ao Amapá. Hoje, aparecem apenas no Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, tendo desaparecido no Espírito Santo, Bahia e Sergipe.
Em Setembro de 2007, investigadores de Manaus organizaram a primeira reintrodução de peixe-boi amazónico em água doce. Zelando pela conservação do peixe-boi marinho está o Centro de Mamíferos Aquáticos em Itamaracá, na região metropolitana do Recife. Conhecido pelo seu trabalho de conservação, a instituição comemora 30 anos de actividades e, juntamente com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), reintroduziu 4 peixes-boi à natureza no ano de 2010.
fonte: Terra
obrigada pela divulgação,
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