Fósseis do interior de São Paulo e de Minas mostram que, há mais de 65 milhões de anos, parentes dos jacarés actuais eram caçadores terrestres e até comiam insectos
CROCODILOS, JACARÉS, ALIGATORES E GAVIAIS não são exatamente o grupo mais diversificado de vertebrados actuais. É verdade que ainda existem 23 espécies desses animais, espalhadas por todos os continentes, com excepção da Antártida, mas um observador casual provavelmente não erraria muito se afirmasse que quem viu uma delas conheceu todas. Afinal, esses animais são, sem excepção, adaptados à vida semiaquática, ganhando seu sustento como predadores de emboscada. Os fósseis, no entanto, mostram que esse estilo de vida não tem nada de inevitável para esse grupo de animais. No passado remoto, os crocodiliformes, como são conhecidos coletivamente, podiam ocupar nichos ecológicos quase inimagináveis para quem vê as formas modernas do grupo no Pantanal, no Brasil, ou nos grandes rios africanos.
Esqueletos encontrados em camadas de rocha nos estados de São Paulo e Minas Gerais estão ajudando a contar essa história surpreendente. Em alguns casos, vários indivíduos da mesma espécie foram preservados, praticamente intactos, de forma que é possível estudar não apenas sua morfologia como fazer inferências sobre o comportamento dos animais e as razões que os levaram à morte.
O quadro pintado por esses restos deixa claro que muitos eram caçadores terrestres, corredores de patas esguias e erectas – mais próximos de um lobo-guará que de um jacaré moderno, por assim dizer. Outros, de porte mais modesto, teriam se adaptado ao consumo de insectos e até plantas, enquanto os que hoje nos pareceriam mais estranhos ostentavam uma armadura de placas semelhante à de um tatu. E todos tinham suas garras firmemente plantadas em terra firme, no imenso semideserto que cobria o interior do Brasil no período Cretáceo, há mais de 65 milhões de anos, antes da extinção em massa que eliminou os dinossauros.
A intensificação das coletas de fósseis feitas por nós e outros colegas brasileiros e o uso de novas tecnologias, como a tomografia computadorizada e as animações em 3D, estão ajudando a reconstruir essas criaturas com um grau de detalhamento e precisão sem precedentes.
Estamos acostumados a chamar os crocodiliformes modernos de “répteis”, embora haja uma enorme distância de parentesco entre eles e outras criaturas que recebem essa denominação popular, como serpentes, lagartos e tartarugas. O mais correto, do ponto de vista evolutivo, é classificá-los dentro de um subgrupo de vertebrados terrestres cujo único outro ramo ainda vivo é o das aves.
fonte: Scientific American Brasil
Sem comentários:
Enviar um comentário