Antes do final da última Era do Gelo, milhões de saigas vagueavam num território que ia de Inglaterra até à Sibéria, chegando mesmo ao Alasca. Em algum momento, foram para as estepes da Ásia Central, onde continuaram a reproduzir-se – até ao século XX, quando esses antílopes começaram a ser ameaçados de extinção.
Caçados pelos seus chifres, 95% da população desapareceu, e as saigas foram declaradas criticamente ameaçadas.
Depois da adopção de medidas estritas contra a caça, a população recuperou, de um mínimo de 50 mil para cerca de 250 mil no ano passado. «Foi uma grande história de sucesso», afirma Eleanor J. Milner-Gulland, presidente da Aliança para a Conservação da Saiga.
Agora, esse sucesso corre perigo. No mês passado, uma doença misteriosa arrasou os rebanhos ainda existentes, deixando as estepes cheias de carcaças. A doença matou mais de um terço da população mundial em apenas algumas semanas.
«Estou tão alarmado que nem sei o que dizer. Perder 120 mil animais em duas ou três semanas é uma coisa inacreditável», afirma Joel Berger, cientista da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem.
Uma equipa internacional de biólogos da vida selvagem está agora a examinar tecidos tirados das saigas mortas, esperando descobrir o que as matou. O que quer que seja, tem o potencial de acabar com anos de esforços de conservação, ameaçando ainda mais a espécie.
«Assim que soubermos o que está a causar as mortes, precisaremos de pensar atentamente em como evitá-las no futuro», explica Aline Kuehl-Stenzel, coordenadora de espécies terrestres da Convenção pela Conservação de Espécies de Animais Selvagens Migratórios.
As saigas são criaturas excepcionais. No Verão, migram pelas estepes aos milhares, as fêmeas parando apenas o tempo suficiente para parir, normalmente dois filhotes gémeos. As saigas podem viajar mais de 50 milhas por dia nas suas migrações, e são capazes de correr mais de 65 quilómetros por hora.
Os naturalistas chamam a atenção para as suas faces estranhas, quase como uma animação, com focinhos grandes e tortos, de alguma maneira a lembrar as trombas dos elefantes.
«Na verdade, é uma estrutura extraordinária. Na temporada de acasalamento, o focinho do macho aumenta ainda mais, e balançam a cabeça e fazem um barulho de esguicho», explica Aline, que estuda as saigas desde 2003.
As fêmeas talvez tenham atracção pelos focinhos grandes dos machos, mas os cientistas suspeitam que esses narizes também protejam as saigas da poeira do solo seco.
«De certa forma, o focinho é um filtro, e provavelmente também arrefece o ar no Verão e aquece-o no Inverno», diz Aline.
De tempo a tempo, as saigas passaram por surtos que causaram muitas mortes. O último importante aconteceu em 2010, quando 12 mil animais faleceram. As causas ainda não foram descobertas, porque os biólogos só conseguiram chegar às carcaças muito tempo depois.
«Não temos informações e por isso as pessoas continuam a pesquisar», conta Richard A. Kock, especialista em doenças da vida selvagem do Colégio Real de Veterinária de Londres.
A 13 de Maio, Aline começou a receber avisos de funcionários do governo do Cazaquistão, um dos cinco países onde esse antílope ainda vive, que outra mortandade em massa estava a começar. Centenas de carcaças foram encontradas, muitas delas de mães com os seus filhotes. À medida que os dias foram passando, as perdas aumentaram.
A mortandade agora foi dez vezes maior do que a de 2010. E porque a população de saigas já estava com um número precário, o surto ceifou uma proporção astronómica da espécie, de um terço para talvez metade.
«A escala é totalmente sem precedentes», afirma Aline.
fonte: Diário Digital
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