sábado, 6 de junho de 2015

A história do "São José" veio do fundo do mar e do fundo dos arquivos


Os mergulhadores no fundo do mar, na Clifton Bay, junto à Cidade do Cabo. Foi aqui que as equipas do Museu Iziko, liderados pelo arqueólogo Jaco Boshoff, encontraram as barras de ferro que serviam de lastro ao S. José

O manifesto de carga encontrado comprova que o navio transportava 1130 barras de ferro, usadas como lastro no transporte de carga viva. Foram encontradas no fundo do mar, junto ao cabo da Boa Esperança

O segredo está guardado na caixa 69, veio de Moçambique e está guardado no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), em Lisboa. Num papel tamanho A3, dobrado em dois, amarelo do tempo mas em perfeito estado de conservação, a equipa que investiga os destroços encontrado juntos à costa da Cidado Cabo, na África do Sul, encontrou a prova de que este era um navio que transportava escravos até ao Brasil - o manifesto de carga declarada em Moçambique. Ou, em português antigo, "Mappa da Carga que condus o Navio denominado de S. Jozé Paquete de África do porto da Cidade de Lisboa para o de Moçambique do qual é capitão Manoel João em o anno de 1794"

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O Mappa de Carga que estava guardado no Arquivo Histórico UltramarinoFotografia © Carlos Manuel Martins/ Global Imagens

O documento, que o DN procurou e consultou no AHU, é um entre mais de 300 guardados nas três caixas do ano de 1794 e diz que no barco havia 1130 barras de ferro, o material que era usado como lastro quando se transportava carga viva. Informação crucial encontrada pelos investigadores que trabalham os destroços do navio São José e a História da escravatura, uma história global, "que está na base para o mundo moderno", afirma ao DN Stephen Lubkemann, co-investigador do projeto dos destroços do navio S. José, ao telefone e em português, desde a África do Sul, onde foram apresentados os primeiros resultados na terça-feira

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Os lingotes de ferro que serviam de lastro ao S. José Fotografia © DR

Este foi um dos muitos documentos consultados e encontrados por Iolanda Teixeira Duarte, da Universidade de Moçambique, nos meses que passou no Palácio da Ega, em Lisboa onde se guardam os documentos produzidos pelo Conselho Ultramarino, um organismo dependente da Coroa portuguesa que funcionou entre 1642-1808. A pesquisa foi de 1740 até 1810, conta Lubkemann, antropólogo ligado ao Slaves Wrecks Project, uma organização que pretende traçar o percurso dos escravos de África até ao continente americano.


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