Ilustrações de Bruno Gaspar
Cheiro a morangos acabados de colher, o som do bater de portas de um carro, uma injecção anti-sequestro ou um amigo imaginário. Estes são alguns dos exemplos dos pedidos de patentes mais originais.
Cheiros, cores, sons, hologramas. Tudo pode ser patenteado. Não é por isso de admirar que o número de registos de marcas e invenções não pare de aumentar. A celeridade e simplificação do processo também encorajou a corrida aos registos de marcas e patentes, bem como de inventores.
Em todo o mundo são feitos diariamente incontáveis novos pedidos de registo de patentes, desde o novo modelo do iPhone até escadas para as aranhas não se afogarem em banheiras. Alguns destes pedidos mais 'originais' são feitos por inventores amadores que na esperança de terem vivido o seu 'momento Eureka' e de poderem lucrar com a sua ideia se apressam a registá-la. Porém, muitas vezes o público não partilha da mesma opinião e a invenção acaba por nunca sair do papel.
Um jovem inventor nos EUA, por exemplo, decidiu patentear uma aplicação para urinóis que funcionaria como um descanso para a cabeça. Outro aspirante a Edison queria acabar de vez com os problemas do ressonar, mas de uma forma radical. Inventou uma coleira que dá choques mal detecta as vibrações do ressonar.
Na tentativa de ajudar os condutores mais solitários a 'fintar' ladrões, um norte-americano patenteou o amigo imaginário. Trata-se de uma aplicação para o lugar do passageiro nos automóveis em forma de manequim. O boneco tem ainda a particularidade de parecer que está a falar ao telemóvel, para simular que está a telefonar à Polícia e intimidar o assaltante. Outra invenção que continua a integrar as listas das patentes mais estranhas data de 1974: uma injecção anti-sequestro nos bancos dos aviões. O objectivo era sedar ou até mesmo matar um eventual sequestrador quando ele voltasse ao seu lugar depois de informar o piloto dos seus planos maléficos. Além de dificilmente ser exequível, a ideia apresentava outro problema. Como não era possível conhecer com antecedência onde o sequestrador se iria sentar, todos os bancos teriam que ser equipados com esta injecção letal.
Nem o Pai Natal escapa ao borbulhar de ideias dos novos inventores. Em alguns países existe a tradição de pendurar uma meia na lareira para o senhor vestido de vermelho deixar as prendas. Para apanhar o Pai Natal em flagrante, um norte-americano decidiu criar uma meia festiva com um detector de presença. Assim, quando São Nicolau lhe entregasse um presente, o dispositivo iria activar várias luzes. 'Estranhamente', os fabricantes e o público em geral preferiram manter o mistério em torno do Pai Natal, optando por não produzir ou comprar a meia natalícia.
Inventores portugueses em alta
O facto de a maioria das invenções mais originais serem patenteadas nas terras do tio Sam não acontece por acaso. A par da China e do Japão, os EUA ocupam o pódio dos países com maior número de pedidos de patentes, segundo os últimos dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Nesta classificação, Portugal situa-se no 46.º lugar. Uma posição que poderá escalar alguns degraus nos próximos anos, a avaliar pelo aumento do registo de patentes. Na última década, «os indicadores sobre a utilização da Propriedade Industrial em Portugal têm revelado progressos muito significativos. Desde 2005, as taxas anuais de crescimento dos pedidos de registo de patentes e modelos de utilidade têm sido superiores a 14%», revela Ana Bandeira, da direcção de marcas e patentes do INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
«Portugal é, sem dúvida um país de inventores. Todos os dias somos informados de novas contribuições dos nossos empreendedores e cientistas para o avanço tecnológico nas mais variadas áreas, obtendo sempre mais destaque as contribuições para a área da saúde, biotecnologia e tecnologias de informação/comunicação», sublinha João Jorge, secretário-geral da ACPI - Associação Portuguesa dos Consultores de Propriedade Industrial. «No entanto nem todas as invenções resultam em inovação e nem todas as inovações são invenções», ressalva o advogado.
No ano passado o INPI recebeu 803 pedidos de invenções nacionais. «Sistemas de rega inteligentes, dispositivos que permitem medir a dor, um sistema de monitorização de sinais vitais embebido na roupa ou aromatização de azeite virgem com óleos essenciais - os pedidos que chegam ao INPI são de inúmeros tipos, sendo que há muitos dotados de um elevado grau de originalidade», detalha Ana Bandeira.
Apesar de os portugueses estarem mais despertos para a importância do processo de patentes, a falta de sensibilização para esta necessidade já levou algumas empresas portuguesas a perderem milhares de euros. A invenção da Via Verde pela Brisa é um exemplo. Começou a ser utilizada em Portugal mas, como a ideia não foi registada, várias empresas conseguiram copiar o conceito.
A guerra das mil e uma patentes
Nem todas as ideias originais ficam no papel. E, para não perderem o comboio das invenções, são várias as empresas e marcas que tentam patentear praticamente tudo de maneira a não deixar nenhuma abertura para os seus concorrentes. Formatos de embalagens (Coca-Cola), slogans ('Just do it', da Nike, ou 'Até Já', da TMN) passando pelas cores, todos os pormenores da criação de uma marca podem ser patenteados. Até o cheiro. Uma empresa de material de escritório conseguiu patentear o cheiro a morangos acabados de colher, tendo provado que os consumidores associavam este odor às suas papelarias. Já outra empresa europeia que queria apropriar-se do cheiro a relva acabada de cortar não teve a mesma sorte. Foi provado que este cheiro na Escócia não era igual ao de Espanha.
As gigantes tecnológicas são dos clientes mais habituais. A Nokia e a Apple patentearam, por exemplo, o som que os dispositivos da marca emitem ao serem ligados. No campo auditivo as inovações no sector automóvel vão mais além, com determinados fabricantes a registarem o som do bater das portas e até do motor.
Algumas empresas e marcas levam de tal maneira a sério a Propriedade Industrial que fazem das barras dos tribunais autênticos campos de batalha. As tecnológicas são as que se sentam mais vezes no banco dos réus, mas um dos processos mais mediáticos foi protagonizado pelo litígio entre a marca de chocolates After Eight e a marca de preservativos After Nine. O processo arrastou-se anos e anos, mas a marca de chocolates conseguiu provar a existência de uma concorrência desleal e a After Nine foi obrigada a sair do mercado.
Desde que há patentes que há guerras, e uma das mais antigas e conhecidas remonta a 1871. Estamos a falar da invenção do telefone por Graham Bell, certo? Não. Segundo vários historiadores, este aparelho que iria mudar a forma de comunicar em todo o mundo foi inventado pelo italiano António Meucci. Depois de ter passado dez anos a criar o primeiro aparelho de transmissão de voz à distância, que denominaria de 'telégrafo falante', decidiu registar a invenção em 1871 como patente provisória, por ser mais barata. Três anos depois, como não tinha os 10 dólares necessários para renovar a patente, perdeu os direitos da ideia. Em 1876 Graham Bell pagou os 250 dólares necessários para registar a sua invenção do telefone como patente definitiva, ficando assim conhecido na história como o pai daquela invenção.
fonte: Sol online
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