Cientistas americanos anunciaram ter conseguido fazer com que um macaco controlasse os movimentos do braço de outro com o pensamento.
Para a experiência foram usadas leituras ao cérebro de um primeiro macaco, chamado de mestre, utilizadas como guia para estimular electricamente a medula espinal do segundo macaco, chamado de avatar. Desta forma, segundo a BBC, o mestre pôde comandar os movimentos do avatar.
A equipa de cientistas espera que o método seja aperfeiçoado de modo a permitir que pessoas paralíticas possam readquirir o controlo do seu corpo. Danos na medula espinal podem interromper o fluxo de informações entre o cérebro e o corpo e impedir uma pessoa de andar ou de poder alimentar-se sozinha. Os investigadores procuram agora contornar esse dano com a ajuda de máquinas.
Os resultados foram publicados na Nature Communications e descritos como “um passo importante” para atingir essa meta.
Conexão cerebral
Na pesquisa, cientistas da Escola de Medicina de Harvard recusaram-se a provocar a paralisia de um macaco por considerar que seria uma atitude injustificável.
Em vez disso, usaram dois macacos: um mestre e um avatar, que foi sedado para simular os efeitos da paralisia.
Foi implantado um chip no cérebro do mestre de forma a monitorizar qualquer actividade cerebral que envolvesse mais do que cem neuróticos. Durante o teste, os movimentos do mestre foram relacionados a padrões da actividade eléctrica gerada pelos seus neurónios.
Por sua vez, o avatar teve 36 eléctrodos implantados na sua medula espinal. Foram entretanto realizados testes para verificar a forma como o estímulo provocado pelas diferentes combinações de eléctrodos afectava os seus movimentos.
Nessa altura os macacos foram então conectados um ao outro para que as leituras cerebrais de um gerassem movimentos no outro em tempo real. O avatar segurava um controlo que comandava um cursor numa tela enquanto o líder pensava em mover este cursor para cima e para baixo.
Em 98% dos testes, o mestre conseguiu controlar os movimentos do braço do avatar.
“A nossa esperança é obter um movimento totalmente natural”, disse o cientista Ziv Williams à BBC. “Acho que teoricamente é possível, mas para chegar a esse ponto serão necessários esforços adicionais e exponenciais”.
Para Williams, a mínima capacidade de realizar movimentos novamente mudaria drasticamente a qualidade de vida de pessoas paralíticas.
Realidade ou ficção?
A ideia de um cérebro controlar o corpo de um avatar já foi tema de filmes de Hollywood, como Avatar (2009).
No entanto, o professor Christopher James, da Universidade de Warwick, descarta um futuro no qual seja possível comandar os corpos de outras pessoas por meio do pensamento.
“O risco de isso acontecer é nulo”, disse James. “Mesmo ligada a outra pessoa dessa forma, quem não tem lesões na medula espinal ou no tronco encefálico ainda assim manteria o controlo dos seus membros. Dessa forma, ninguém será capaz de fazer alguém movimentar-se contra sua vontade”.
Mesmo assim, James afirma, a pesquisa tem grandes implicações, “especialmente no controlo de membros no caso de haver uma lesão ou no controle de próteses por quem teve um membro amputado”.
Ainda há alguns desafios para atingir essa meta. Mover um cursor para cima e para baixo não se equipara, por exemplo, à complexidade de um movimento como o de levar um copo até à boca.
Além disso, os músculos tendem a ficar mais rígidos depois de uma paralisia e a pressão sanguínea varia bastante, o que torna a retomada do controlo do corpo mais difícil.
“Este trabalho é um importante passo à frente porque mostra que existe a possibilidade de usar ligações entre as máquinas e o cérebro para restabelecer a capacidade de uma pessoa paralítica de realizar movimentos”, diz o professor Bernard Conway, chefe de engenharia biomédica da Universidade de Strathclyde (Reino Unido).
“No entanto, ainda será necessário muito trabalho até que a tecnologia possa ser usada por quem precisa dela.”
fonte: ZAP aeiou
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