terça-feira, 1 de novembro de 2011

Descoberto um fóssil de preguiça gigante que teria vivido há 10 mil anos


Em 2005, José Bezerra, um homem simples de Uberaba, no Triângulo Mineiro, costumava sair para caminhar pelo campo apanhar vegetação para vender às donas de casa, que utilizavam o material em arranjos de vasos de plantas.

Numa dessas andanças, às margens do Córrego da Saudade, ele esbarrou em grandes ossos que chamaram sua atenção.

José guardou as peças, assim como outras que encontrou mais tarde, sem saber que estava realizando uma importante descoberta científica. Os ossos eram fósseis de preguiça gigante pré-histórico.

O descoberta aponta uma nova linha de pesquisa paleontológica em Uberaba, conhecida como “terra dos dinossauros”, graças a importantes fósseis de grandes répteis encontrados ali.

Por terem sido descobertos entre areia e cascalho, os ossos indicam que o animal viveu há cerca de 10 mil anos, o que para a paleontologia é um período relativamente recente.

“É uma descoberta incrível e de grande importância para a ciência, pois é o primeiro mamífero pré-histórico encontrado na cidade e abre novas possibilidades (de estudo)”, comemora Luiz Carlos Borges Ribeiro, geólogo e director do Museu dos Dinossauros, em Uberaba.

Apesar de descoberto em 2005, esse tesouro só chegou às mãos das equipas de geólogos e paleontólogos em 2009.

Agora, a aparência do animal foi reconstituída pelo talento de dois artistas locais, Norton Fenerich e Rodolfo Nogueira Ribeiro, que construíram uma réplica do animal com 5m de altura e cerca de 4t.

Em comemoração da Semana dos Dinossauros, evento que ocorreu no Museu dos Dinossauros, em Peirópolis, na zona rural de Uberaba, a réplica, chamada de Lenda Viva, foi apresentada ao público. Infelizmente, José Bezerra não pode contemplar a escultura, pois morreu em 2006, num acidente de carro.

A apresentação ao público ocorreu antes mesmo da divulgação da descoberta à comunidade científica. O estudo foi apresentado no último dia 22 durante o Congresso Brasileiro de Paleontologia, em Natal.

“Quebramos o protocolo, pois apresentamos primeiro à população”, conta Borges Ribeiro, acreditando que o animal pode ser um dos maiores já encontrados no país e com a ossada em melhor estado de conservação.

A Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) apoia as pesquisas desenvolvidas em Peirópolis.

Mamífero

Conhecido popularmente como preguiça gigante, o mamífero é da espécie Eremotherium laurillardi e, segundo o director do museu, ainda não foi possível determinar se se trata de uma fêmea ou de um macho.

Os investigadores conseguiram apontar que o exemplar encontrado era um adulto médio quando morreu e que poderia ter chegado a 6m de altura.

As pesquisas indicam que a preguiça gigante era um animal terrestre quadrúpede, que se erguia nas duas patas para alcançar folhas distantes em árvores. “Essa espécie tinha garras e se alimentava essencialmente de plantas. Era um animal pacífico”, comenta o geólogo.

O grande mistério que ronda a história desse animal e chama a atenção dos cientistas é a forma como seus ossos foram encontrados.

“José Bezerra não precisou escavar. Os fósseis estavam à superfície e também dentro do córrego, o que nos faz crer que se trata de um animal que viveu em período recente (em termos geológicos)”, comenta o especialista, acreditando ser um marco para a paleontologia.

“Não só por se tratar de um novo grupo que teria vivido na região, mas também por permitir uma melhor compreensão dos ecossistemas terrestres em outro momento geológico, próximo à época actual.”

Segundo ele, o achado traz uma série de novas questões sobre os Eremotherium laurillardi. “Qual seria a idade precisa desses grandes animais? Seriam eles realmente do Período Pleistoceno (entre 1,8 milhão e 11,5 mil anos atrás) ou seriam mais recentes, do Holoceno (11 mil anos até actualidade)? Teriam convivido com os primeiros homens pré-históricos do país? Tal achado abre novas perspectivas para descobertas de fósseis de outras espécies, inclusive de humanos?”, questiona Borges Ribeiro.

“Nunca se imaginou a possibilidade de encontrar fósseis de mamíferos gigantes em Uberaba, tendo-se em vista que, nestes 60 anos de escavações, nem sequer um único dente de mamífero, mesmo que de alguns poucos milímetros, tenha sido descoberto”, diz.

As jazidas de fósseis existentes na região foram descobertas na década de 1940. Embora haja registos de moluscos e vegetais, predominam fósseis de vertebrados que viveram há cerca de 80 milhões de anos.

Duas décadas

Este ano, o Museu dos Dinossauros comemorou, em julho, 20 anos de existência. O local funciona como um centro de pesquisa e fica às margens da BR-262, a 19km de Uberaba, numa localidade chamada Peirópolis.

“Hoje, temos um alto potencial turístico. A região gera 110 empregos directos. É um outro modelo de desenvolvimento. Quebramos o paradigma de que só a indústria e o comércio geram isso”, destaca o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro.


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