A variabilidade natural não chega para explicar secas, inundações e tempestades. As alterações climáticas causadas pelo ser humano estão a mudar a frequência, intensidade e duração de fenómenos meteorológicos extremos, revela hoje um novo relatório do Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas (IPCC).
“Um clima em mudança pode levar a alterações na frequência, intensidade, dimensão espacial, duração e o momento em que ocorrem fenómenos meteorológicos e climáticos extremos” sem precedentes, constata o relatório, que levou dois anos a ser elaborado.
A mão humana entra neste cenário. “As alterações observadas nos extremos climáticos reflectem a influência das alterações climáticas antropogénicas, que se juntam à variabilidade climática natural”, acrescenta o relatório, aprovado hoje pelos países membros do IPCC numa reunião em Kampala, no Uganda.
A concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera é a forma como o ser humano está a influenciar os fenómenos extremos, declara o painel. “É provável que a influência antropogénica tenha causado a subida das temperaturas mínimas e máximas a uma escala global”. O ser humano já não tem que ver com a mudança dos padrões de precipitação e menos ainda com os ciclones tropicais.
Mais dias quentes e mais chuvadas
O IPCC prevê um maior número de dias quentes e temperaturas máximas mais elevadas. “No cenário de emissões [de gases com efeito de estufa] elevadas, é provável que a frequência dos dias quentes aumente na maioria das regiões do mundo”, disse o co-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Thomas Stocker, citado em comunicado.
“É muito provável que a frequência e/ou intensidade das ondas de calor aumente em quase toda a superfície terrestre”, acrescentam os especialistas.
Os episódios de seca deverão intensificar-se no século XXI em algumas estações e regiões, incluindo o Sul da Europa e a região do Mediterrâneo, o Sul de África e a América Central.
“As precipitações intensas também serão mais frequentes – especialmente nas regiões tropicais e nas latitudes mais elevadas – e a velocidade do vento nos ciclones tropicais deverá aumentar” em algumas bacias oceanográficas, acrescentou Stocker. Se podem tornar-se mais intensos em certas zonas, a sua frequência pode manter-se constante ou até diminuir.
Segundo o relatório, estas mudanças meteorológicas têm um preço alto para as sociedades. Em 2010 causaram perdas acima dos 200 mil milhões de dólares, estimativa que deixa de fora outros impactos, como “a perda de vidas humanas [de 1970 a 2008, 95% das mortes causados por desastres naturais aconteceram nos países em desenvolvimento], a perda de património cultural e de serviços de ecossistemas”. No futuro, os fenómenos extremos afectarão especialmente a agricultura, produção de alimentos, abastecimento de água, saúde e turismo.
Mas “a gravidade dos impactos destes fenómenos depende muito do grau de exposição e vulnerabilidade” dos povos. Por isso, o IPCC defende a criação de “mecanismos de gestão de riscos para aumentar a resiliência”, transferência de tecnologia, maior cooperação internacional e um maior esforço de financiamento.
fonte: Público
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