A Casa Branca desmentiu na semana passada estar a esconder informação sobre extraterrestres. Não há provas de que eles existam, mas anda-se à procura e é bastante provável que existam. No meio de tudo isto, pode parecer uma bizarria mas há dezenas de páginas escritas sobre o tema "comunicação com extraterrestres". O i falou com o coordenador de uma das edições mais recentes, Douglas Vakoch, director da unidade Composição de Mensagem Interestelar do Instituto SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence). Depois de terem desligado o radiotelescópio gigante que desde 2007 tenta detectar sinais alienígenas, por falta de verbas, o especialista anunciou ao i que os trabalhos vão ser retomados nas próximas semanas. "Quanto mais depressa retomarmos a nossa busca, mais depressa poderemos ter provas de que não estamos sozinhos no universo", diz Vakoch. E na altura vai ser preciso saber o que dizer.
Uma mãozinha da Jodie Foster
No comunicado da Casa Branca, em resposta a uma petição com 12 mil assinaturas no espaço online "We The People", Phil Larson, do gabinete de política da administração Obama, dava o SETI como exemplo de projectos à procura de vida alienígena. Larson não diz, ainda assim, que o instituto que já foi propriedade estatal teve a plataforma de antenas conhecida por Allen Telescope Array parada desde Abril por falta de financiamento. As verbas que a Fundação Nacional para a Ciência dos EUA colocava no projecto, através da Universidade de Berkeley, foram reduzidas a um décimo e tornou-se impossível garantir o orçamento anual de 1,8 milhões de euros para o projecto. Resumindo, se algum extraterrestre ligou entretanto, a Terra não estava à escuta.
Com a ajuda de famosos como a actriz Jodie Foster, e outros menos famosos, foi possível juntar 200 mil dólares, o suficiente para que o projecto não continue parado na melhor altura para estar a funcionar: o ritmo de descobertas de novos planetas fora do sistema solar bateu recordes este ano (são quase 700 confirmados e mais de 1000 candidatos só na missão Kepler). Nos próximos dois anos, as antenas vão apontar para as estrelas referenciadas pelo Kepler como potenciais "sóis" de planetas parecidos com a terra. Os cientistas da missão da NASA anunciaram em Fevereiro que entre os 1235 potenciais planetas, 54 estarão nas zonas habitáveis da sua estrela e cinco terão mesmo um tamanho idêntico ao da Terra.
Falar com ET’S
O livro coordenado por Vakoch, e publicado este Verão pela Universidade de Nova Iorque, "Comunicação com Inteligência Extraterrestre", é uma boa introdução para quem se quer iniciar na preparação de um eventual encontro. Convém dizer que a busca tem pelo menos 50 anos: em Abril de 1960, Frank Drake foi o primeiro cientista a apontar um radiotelescópio ao espaço à procura de sinais extraterrestres. A edição reúne capítulos de vários cientistas sobre os dilemas existenciais que poderão ser suscitados pela descoberta de seres inteligentes no Espaço e apresenta fórmulas indecifráveis como algo que extraterrestres poderão eventualmente perceber. E vão desde linguagem binária a imagens gráficas – como a representação do sistema solar na ilustração aqui ao lado, retirada de uma proposta de "pedra de roseta" para aliens, assinada por Stéphane Dumas, especialista em física no governo canadiano.
Para Vakoch, que também acredita que a Casa Branca não está a esconder nada (dificilmente o assunto terá ficado arrumado para os que estão convencidos de que foi um disco que se despenhou em Roswell em 1947 e não um balão meteorológico), enquanto não se chega a um conteúdo consensual para mensagem, mais vale pensar que será melhor preparar um mix de imagens, música, matemática e programas de computador. Mas mesmo a matemática, que reúne grande consenso como linguagem presumivelmente entendível por uma civilização superior, tem alguns senãos: no livro, Carl DeVito, professor de Matemática na Universidade do Arizona, defende que os números naturais (1,2,3...) existem independente de nós. "O resto da matemática, contudo, poderá não existir em mais nenhum lado que nas nossas mentes." Outro autor, o geomicrobiologista Charles S. Cockell, defende que a mensagem perfeita terá de dar a entender que a civilização humana "aceita a primazia da ciência", tem vontade de partilhar conhecimento e deve ser simples, "maximizando as hipóteses de ser decifrada e compreendida". A milagrosa proposta, que possivelmente não lhe dirá nada se não for biólogo, é enviar uma imagem esquemática na quimiosmose (ver Wikipédia): o processo no coração da captura de energia pelas formas de vida na terra. "Se a inteligência reconhecer o sistema, saberão que partilham uma base bioquímica connosco. Se não, poderão criá-la em laboratório – uma oferenda tecnológica da nossa civilização."
Mas eles serão bons?
Em Agosto, um relatório assinado por três investigadores – entre eles um cientista da NASA, Shawn D. Domagal-Goldman – concorreria para trabalho insólito do ano ao detalhar cenários benéficos, neutros e perigosos para um eventual encontro com aliens. Descrevia, por exemplo, que os invasores poderiam escravizar-nos ou transmitir-nos doenças. O melhor são as recomendações finais, por exemplo que se deve ter cuidado com a informação que se partilha com extraterrestres. Um exemplo: a mensagem de Arecibo, transmitida para o Espaço em 1974, incluía alguns detalhes sobre a estrutura do ADN. Está mal. "Um ser inteligente malicioso que esteja a ouvir pode usar a mensagem sobre a biologia humana para desenvolver uma potente arma biológica contra a Terra", defendem os autores, sublinhando que as primeiras mensagens devem limitar-se a um "discurso matemático simples" até se perceber com que tipo de ET se está a lidar. Recomendam ainda que a Humanidade deve evitar parecer uma civilização em rápida expansão: os ETs poderão sentir-se inclinados a atacar-nos para evitar que nos tornemos uma ameaça para a galáxia.
A dúvida sobre a bondade ou maldade dos aliens também é abordada no livro de Vakoch, sem uma resposta definitiva. Michael Michaud, antigo diplomata norte-americano e especialista do SETI, defende que até haver provas de vida extraterrestre, as consequências de um contacto cultural devem ter por base a história humana. Os optimistas, diz, já usaram a analogia com as culturas gregas e romanas, que apesar de defenderem a escravatura e a guerra influenciaram de forma positiva o Renascimento. Mas os pessimistas também devem ser ouvidos e o debate deve ser alargado.
Para já, com o SETI a regressar à escuta, falta decidir se deve avançar com uma nova mensagem deliberada como a de Arecibo ou continuar a busca "passiva" por sinais do Espaço. Neste momento, os sinais emitidos todos os dias da Terra (por exemplo nas telecomunicações) só têm um alcance de 60 anos-luz, lê-se no livro, pelo que serão demasiado fracos para ser percebidos por uma das mil a cem mil civilizações que os cientistas acreditam que poderão existir só na Via Láctea, separadas por centenas a milhares de anos-luz.
fonte: Jornal i
Sem comentários:
Enviar um comentário