terça-feira, 22 de novembro de 2011

Botânicos descobrem a primeira orquídea nocturna


A orquídea foi encontrada nas florestas tropicais da ilha de Nova Bretanha

Nas florestas tropicais da ilha da Nova Bretanha, perto da Papuásia-Nova Guiné, botânicos descobriram uma orquídea que só abre as suas pétalas de noite, a única até agora conhecida de um total de 25.000 espécies.

A orquídea nocturna, Bulbophyllum nocturnum, “é o primeiro exemplo conhecido de uma espécie de orquídeas que, consistentemente, abre as suas pétalas depois do anoitecer e as fecha de manhã”, diz um comunicado dos Jardins Botânicos Reais de Kew, Londres. 

O especialista holandês Ed de Vogel visitava a ilha da Nova Bretanha quando descobriu esta espécie de orquídea, numa floresta outrora inacessível e agora marcada para ser abatida. Ed de Vogel foi autorizado a recolher algumas orquídeas que agora estão a ser cultivadas no Horto Botânico de Leiden.

Aos cuidados do botânico Art Vogel, as plantas produziram botões. A abertura das flores era muito aguardada, já que a planta pertence a um grupo que inclui espécies com flores de aparências estranhas, lembrando insectos ou criaturas marinhas.

Mas algo de errado estava a acontecer. Os botões murchavam assim que alcançavam o tamanho ideal para se abrirem. Para tentar descobrir exactamente o que se passava, Ed de Vogel levou as orquídeas para casa e, para sua surpresa, o botão abriu às 22h e fechou-se às 10h da manhã seguinte. As flores apenas duraram uma noite.

A descoberta, dos Jardins de Kew e do Naturalis (Centro holandês para a Biodiversidade), foi publicada na revista "Botanical Journal of the Linnean Society".

Razões desconhecidas

Apenas um número reduzido de plantas tem flores que se abrem à noite e fecham de manhã, entre elas o cacto Selenicereus grandiflorus. “Há alguns cactos no deserto cujas flores abrem de noite para evitar as elevadas temperaturas. Se abrissem de dia, apenas durariam segundos”, disse hoje ao PÚBLICO Miguel Sequeira, presidente da ALFA (Associação Lusitana de Fitossociologia), entidade que elaborou a primeira lista de referência das plantas de Portugal, publicada há um ano. 

Até agora, não se conhecia nenhuma orquídea a desabrochar de noite. No entanto, muitas são polinizadas por borboletas nocturnas, embora mantenham as flores abertas durante o dia.

“Isto lembra-nos que ainda há coisas surpreendentes por descobrir. Mas é uma corrida contra o tempo para encontrar espécies como esta, que apenas ocorrem em florestas tropicais primárias”, ainda não alteradas pelo homem, comentou o especialista em orquídeas dos Jardins de Kew, André Schuiteman. “Todos sabemos que essas florestas estão a desaparecer depressa. Por isso é cada vez mais importante conseguir financiamento para ir ao terreno e fazer estas descobertas.”

Os botânicos ainda não sabem por que razão a Bulbophyllum nocturnum adoptou a estratégia de desavrochar de noite. Contudo, os Jardins Kew têm algumas sugestões. 

Os investigadores chamam a atenção para a grande semelhança entre os apêndices das flores da orquídea e determinados fungos. “Pode-se especular se os polinizadores são moscas que normalmente se alimentam desses fungos” e assim são atraídas pela orquídea. 

“As orquídeas em geral investem muita da sua energia na produção de flores muito vistosas. Por isso gostamos tanto delas. Mas o número de grãos de pólen é muito reduzido e, normalmente, são polinizadas só por uma ou duas espécies. É uma estratégia muito arriscada. Se uma delas falha, a planta estará comprometida”, disse Miguel Sequeira.

As orquídeas são, talvez, a maior família de plantas do planeta, com 25.000 espécies conhecidas para a ciência. Em Portugal ocorrem 56 espécies: três endémicas na Madeira, duas endémicas nos Açores, duas endémicas no Continente mas partilhadas na Península Ibérica, 48 nativas (próprias do continente mas que também existem em outros territórios) e uma já extinta (Dartylorhiza incarnata).

fonte: Público

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