As alternativas verdes à cremação também passam pela compostagem
Dissolver um corpo humano em água alcalina ou congelá-lo com nitrogénio para depois o partir aos bocadinhos pode ser o futuro dos rituais funerários. Parece desumano? Pelo contrário, estes são os métodos que querem salvar a humanidade dos gases de efeito estufa lançados pela cremação de cadáveres. Um assunto que preocupa cada vez mais ambientalistas.
No Reino Unido, mais de 15% das emissões de mercúrio para a atmosfera dizem respeito a gases libertados em cremações. Em Portugal não há estudos sobre o impacto ambiental desta opção, mas os últimos dados apontados pela Associação Nacional de Empresas Lutuosas dão conta de um grande aumento do número de cremações em certas zonas do país. Em Lisboa estas já são o método preferido em mais de metade dos funerais.
Bem longe, na cidade norte-americana de Sampetersburgo, na Florida, acertam-se os últimos preparativos para a entrada em funcionamento de uma máquina que liquidifica corpos. A patente é escocesa, de uma empresa de Glasgow, mas não pode ser posta em prática na Europa devido a constrangimentos legais.
O método proposto pela Resomation Lt. pode ser traduzido por "hidrólise alcalina". É uma proposta que garante apenas um terço dos gases poluentes emitidos pela cremação tradicional. E gasta um sétimo da energia. De forma muito resumida, trata-se de submergir o cadáver numa solução de água e hidróxido de potássio durante aproximadamente três horas. O tecido corporal acaba por se dissolver no líquido, que depois é lançado na rede de esgotos. Os responsáveis garantem não haver qualquer perigo para a saúde pública. Em entrevista à BBC, Sandy Sullivan, bioquímico associado ao projecto, diz que o método é suficientemente forte para não deixar qualquer vestígio de ADN na água.
A outra alternativa verde à cremação vem da Suécia, pela mão de uma bióloga, Susanne Wiigh-Masak, que teve a ideia de criar uma máquina de compostagem de cadáveres quando olhava para o seu jardim, na ilha de Lyr. A sua criação, Promession, é uma máquina completamente automatizada que recebe os caixões, retira os corpos, e os envolve em nitrogénio líquido. Depois faz o seu conteúdo vibrar até que o cadáver se desfaça em pedaços. Estes passam ainda por diversos filtros e detectores de metais (importante, por exemplo, para quem usava aparelhos dentários) até chegarem a um pequeno caixão biodegradável, pronto para ser enterrado como adubo.
Até agora esta máquina foi testada, com sucesso, em porcos, mas os corpos dos pais da bióloga estão conservados em gelo à espera da autorização legal para cumprir o seu desejo de passarem pela máquina. Wiigh-Masak diz ter uma promessa do governo sueco nesse sentido e acrescenta que já foi contactada por entidades de cerca de 60 países diferentes, que viram na sua ideia uma boa solução para um problema crescente.
O presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas, Nuno Monteiro, acredita que ao serem aplicadas em Portugal estas alternativas iriam interessar apenas a uma "pequena percentagem de pessoas". Segundo ele, trata-se de processos cujo resultado final é ainda pouco explicado e difícil de popularizar junto de alguém em processo de luto. No entanto, faz uma ponte com o que se passou com o processo de cremação. "Ninguém imaginava há uns anos que se pudesse atingir este tipo de percentagens relativas à cremação."
Os números a que Nuno Monteiro se refere são bastante claros. Em 2011, os pedidos de cremação representaram 54% dos funerais realizados em Lisboa. Em 1997 esta percentagem era de 2,3%. Falando em termos absolutos, o número de cremações em 1997 não chegava a uma centena (846). Treze anos depois, em 2007, o número de corpos cremados chegou quase aos 5 mil (4761). De acordo com Nuno Monteiro, a tendência é essencialmente explicada por uma "questão de dinheiro". A cremação dentro do município de Lisboa é substancialmente mais barata que o enterro tradicional.
fonte: Jornal i
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