As águas superficiais do rio Douro estão contaminadas com resíduos fármacos que podem levar à diminuição da fertilidade dos peixes, indicam os resultados de um estudo divulgado no sábado pela cooperativa de ensino CESPU.
O estudo, liderado pela investigadora Maria Elizabeth Tiritan, professora da CESPU -- Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, confirma a existência de resíduos fármacos, nomeadamente antiepiléticos, ansiolíticos e antibióticos, nas águas superficiais do rio Douro e os seus efeitos nos peixes.
Já em julho de 2010 um outro estudo, conduzido pelo hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, indicava índices de poluição do troço final do Douro 200 a 500 vezes superiores ao admissível, com efeitos na mudança de sexo de tainhas e solhas.
O estudo da CESPU, correspondente ao projeto de doutoramento de Tânia Vieira Madureira, envolveu fármacos de diferentes classes terapêuticas, como o diazepam (ansiolítico), o propranol (bloqueador beta), o ácido fenofíbrico (antidislipidémico), o sulfametoxazol, o trimetoprim (antibiótico) e a carbamazepina (antiepilético).
As investigadoras alertam que "as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) não estão projetadas de forma a eliminar este tipo de compostos provenientes da rede de esgotos domésticos e hospitalares" quando se encontram em baixas concentrações.
"Ainda não é possível impedir que os resíduos de fármacos cheguem às águas dos rios", afirma Elizabeth Tiritan, notando que, como medida preventiva enquanto não se consegue melhorar a eficiência das ETAR, "a recolha de medicamentos fora de prazo ajudaria a minimizar o problema".
Ao longo de um ano, foi avaliada a distribuição de alguns compostos farmacêuticos nas águas superficiais do estuário do Douro, com a realização de uma colheita em cada estação do ano.
Os resultados mostraram que o composto encontrado em concentrações mais elevadas foi a carbamazepina, um fármaco utilizado no tratamento da epilepsia, existindo uma tendência para maiores concentrações destes resíduos nas áreas mais urbanizadas.
A equipa constatou ainda que outros fármacos não analisados no estudo "poderão estar presentes nas águas durienses, existindo, assim, o risco potencial de interferência no equilíbrio dos ecossistemas das espécies aquáticas".
"Um dos desequilíbrios mais perigosos prende-se com a feminização dos peixes machos, em consequência, por exemplo, da existência de anticoncecionais no Douro", referem as investigadoras.
O estudo, publicado na revista internacional "Science of the Total Environment", foi apoiado financeiramente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil e CESPU.
fonte: DN
Sem comentários:
Enviar um comentário