Uma mecha de cabelos ajudou uma equipa internacional de investigadores a desvendar o genoma de aborígenes australianos e reescrever a história da imigração dos humanos pelo mundo.
O ADN retirado dos cabelos doados por um jovem aborígene a um antropólogo britânico em 1923 demonstrou que aborígenes australianos foram o primeiro grupo a se separar de outros grupos humanos modernos, há cerca de 70 mil anos. E isto desafia a teoria que afirma que houve uma única fase de diáspora, vinda da África.
Enquanto as populações de aborígenes cruzavam a Ásia e a Austrália, o restante dos humanos permaneceu na região do norte da África e no Médio Oriente até 24 mil anos atrás, saindo apenas depois disto para colonizar a Europa e Ásia.
Mas, os aborígenes tinham se estabelecido na Austrália há 25 mil anos e, portanto, estavam há mais tempo no local onde vivem actualmente do que qualquer outra população conhecida.
A pesquisa, publicada na revista Science, também destaca as novas possibilidades de, no futuro, comparar os genomas de vários indivíduos para rastrear a imigração de pequenos grupos.
Diferenças
Restos arqueológicos encontrados na Austrália tiveram a idade calculada em cerca de 50 mil anos, o que determinava a idade máxima dos assentamentos de aborígenes no continente.
Mas a história da jornada deste grupo e sua relação com povos da Ásia e Europa ainda não tinha sido desvendada.
Anteriormente pensava-se que os grupos humanos modernos tinham se dispersado em apenas uma onda a partir da África e do Médio Oriente e, devido às distâncias envolvidas, os europeus modernos teriam se separado dos asiáticos e dos australianos em primeiro lugar.
Mas, estas informações do ADN retiradas da mecha de cabelo aborígene mostravam que os australianos iniciaram sua jornada bem antes.
Ao examinar as pequenas diferenças entre o ADN de aborígenes e de outros humanos antigos, os cientistas mostraram que os indígenas australianos ficaram isolados pela primeira vez há 70 mil anos.
François Balloux, do Imperial College de Londres e que participou na pesquisa, descreveu como "uma população se expandiu pela costa devido à fartura de recursos na região. Eles podiam andar quase pelo caminho todo, pois o nível do mar era bem mais baixo". Apenas uma pequena viagem pelo mar era necessária para alcançar a Austrália a partir da Ásia.
Mas, qualquer vestígio arqueológico desta jornada, que durou cerca de 25 mil anos, deve estar perdido no fundo do mar, devido ao aumento do nível das águas.
Parque dos Dinossauros
Técnicas de análise de ADN como as que foram usadas neste estudo poderão ser usadas de forma mais ampla para analisar as imigrações humanas.
A equipa internacional de cientistas agora planeia examinar mais profundamente a imigração dos humanos modernos a partir da África além de tentar descobrir como e quando as Américas foram colonizadas.
Balloux afirmou que está animado com o potencial desta técnica, descrevendo-a como um tipo de ciência que é "quase (como a mostrada no filme) Parque dos Dinossauros".
A pesquisa foi feita a partir de uma mecha de cabelo doada por um jovem aborígene a um antropólogo britânico em 1923.
Os investigadores decidiram examinar a mecha de cabelo e não outro tipo de resto por razões legais, já que cabelo não é classificado como tecido humano.
"O mais importante para nós é que a pesquisa fosse aceitável de um ponto de vista social e moral", disse François Balloux.
Para surpresa dos cientistas, todos os consultados apoiaram a pesquisa. Balloux afirmou que, no passado, grupos indígenas sempre foram "extremamente sensíveis a respeito das motivações de cientistas ocidentais" neste tipo de pesquisa.
Mas, o último estudo foi publicado com "forte apoio" do Conselho de Terra e Mar de Goldfields, a organização que representa os proprietários tradicionais de partes da Austrália ocidental, aborígenes.
fonte: BBC Brasil
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