A onda de desmaios que
atinge sobretudo estudantes em Angola é "um mistério que ninguém consegue
explicar" e está a ameaçar o ano lectivo, disse à Lusa um professor
angolano.
Os desmaios acontecem desde Abril, "um pouco por todo o país,
sobretudo nas escolas, e há já relatos de que também tem acontecido nas
faculdades", refere o docente, que pediu o anonimato, em declarações à
Lusa.
Este é um caso "nacional", que as autoridades
"ainda não conseguiram explicar" e que "preocupa toda a
sociedade".
O problema está a "afectar o ano lectivo", havendo
receios de que o mesmo seja "cancelado".
"Há pais que não mandam os filhos para as escolas com receio
do que possa acontecer. As famílias e as crianças estão a sofrer",
descreve o professor.
O docente esclarece que o problema afecta sobretudo crianças,
"na sua maioria adolescentes", essencialmente do sexo feminino, mas
que ninguém consegue explicar as causas do problema.
"É um mistério que não estamos a conseguir desvendar. Ninguém
sabe o que está a acontecer. O Governo tomou algumas medidas, proibindo que os
estudantes entrem nas escolas com batons ou 'sprays', mas os desmaios continuam
a acontecer", lamenta.
Não há referência a "casos de morte", garante o
professor, explicando que depois de desmaiadas, "as pessoas são assistidas
no posto médico".
O professor, que assistiu a um episódio de desmaios na escola onde
dá aulas, garante que chegou a sentir alguns sintomas, mas não chegou a
desfalecer.
"As pessoas começam a sentir irritação na garganta -- eu
também senti -, a boca começa a ficar amarga, começam a sentir uma espécie de
enjoo, a perder o fôlego, a sentir uma escuridão na vista, desmaiam e
caem", descreve.
De acordo com o professor, "ninguém explicou publicamente
qual o produto que está a provocar os desmaios" e o Presidente da
República já "criou uma comissão para tratar do assunto".
No início de Agosto, um balanço das autoridades angolanas
divulgado pela imprensa nacional revelava que, no período de uma semana, mais
de 800 pessoas tinham desmaiado por alegada inalação de substâncias tóxicas nas
províncias de Luanda, Cabinda, Cunene, Huíla e Namibe.
Segundo a Agência de Notícias de Angola (Angop), as autoridades
informaram que os desmaios atingem sobretudo estudantes com idades entre os 14
e 17 anos.
A 29 de Julho, a Angop revelava que o Serviço Nacional de Proteção
Civil tinha registado, em 24 horas, 560 casos de desmaios de alunos nas
províncias de Luanda e Namíbe.
Também no início de agosto, o segundo comandante da Polícia
Nacional de Angola, comissário-chefe Paulo de Almeida, revelava, em conferência
de imprensa, que as amostras enviadas para laboratórios de Portugal com vista a
detetar as causas de centenas de desmaios ocorridos, desde abril, em escolas de
Angola, não conseguiram ainda esclarecer qual o tipo de produto tóxico.
As autoridades detiveram algumas pessoas devido ao uso de gás
lacrimogéneo, denominado aerossol anti-agressivo/70, em forma de bisnaga, em duas
escolas de Luanda, mas os desmaios continuaram.
fonte: DN
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