Material usado está na base dos caldos de cozinha
Nanotecnologia permite aumentar tempo de conservação dos alimentos. Lacticínios serão os primeiros a adoptar tecnologia.
Não se vê, não tem cheiro, mas come-se. A Universidade do Minho está a propor uma revolução na indústria alimentar: uma película que permite embalar alimentos, aumentando o seu tempo de conservação, mas que é de tal forma fina que é invisível. E pode comer-se, porque na sua base está um material 100 por cento seguro para o consumo humano.
Os alimentos são cobertos com uma solução líquida que contém uma nanopartícula que, depois de seca, vai criar uma película protectora. Este material impede que os microrganismos contaminem o fruto ou legume, resolvendo problemas de segurança alimentar. "Na prática, isto é uma barreira", explica José Teixeira, investigador da Universidade do Minho (UM) que coordena a equipa de cinco pessoas que desenvolveu esta inovação.
O material que está na base desta solução é usado há vários anos na indústria alimentar. Trata-se de polissacáridos, que estão na base dos caldos de cozinha, por exemplo. A novidade está na forma como é posto ao serviço da segurança dos alimentos. A tecnologia desenvolvida no Minho apresenta um conjunto de vantagens que leva os seus responsáveis a acreditar que podem revolucionar o mercado alimentar.
Deterioração diminui
Os produtos envolvidos com esta nano-película ficam menos expostos à deterioração natural, aumentando o período durante o qual é possível consumi-los. No caso dos morangos - um dos frutos em que a aplicação desta tecnologia está mais desenvolvida - foram conseguidas reduções das perdas de 30 por cento.
"O consumidor não vê, não sente e pode comer o alimento sem problemas", garante José Teixeira. A solução permite aumentar o tempo de prateleira dos alimentos e reforçar a segurança alimentar. Além disso, a membrana pode tornar-se um veículo de acrescento de valor acrescentando, permitindo a incorporação de compostos bioactivos nos alimentos, como antioxidantes ou antibióticos A nanopelícula pode ser aplicada de três formas. A mais fácil é a imersão dos alimentos num líquido viscoso com as características necessárias à sua protecção, mas é uma solução mais cara, porque gasta maior volume de material. Os investigadores têm agora trabalhado num modelo de aspersão, que pode ser adaptado às soluções já existentes na indústria alimentar para a lavagem dos alimentos. A UM está ainda a desenvolver uma aplicação em filme, muito semelhante às películas aderentes que são normalmente usadas nas cozinhas domésticas.
O queijo Quinta das Marinhas fará, em breve, o primeiro grande teste a este invento. Os produtos embalados com a nanopelícula desenvolvida no Minho chegarão em breve ao mercado, dando resposta a um problema que a empresa - que há vários anos trabalha com a UM - enfrentava e que é comum a várias empresas de lacticínios. O queijo é um alimento facilmente perecível, o que obriga a rotações constantes dos stocks nos supermercados, implicando muitas vezes grandes perdas para os produtores.
A invenção da equipa coordenada por José Teixeira reduz em 20 por cento as perdas de massa do queijo, que assim poderá passar mais tempo nas prateleiras das lojas. Este tipo de soluções já está a ser testado com outras duas empresas de lacticínios e há também empresas do Brasil interessadas em aplicar a tecnologia.
A nova solução parte da investigação em nanotecnologia aplicada a embalagens na indústria alimentar em que este grupo da UM se tem especializado. A área está em forte expansão e o mercado que representava, em 2002, 150 milhões de dólares anuais, deverá valer, no próximo ano, qualquer coisa como 20 mil milhões de dólares, apontam as últimas estimativas.
Brasileiros querem melhorar qualidade
A embalagem comestível desenvolvida pelo Instituto para a Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) da Universidade do Minho é um dos projectos de um consórcio internacional a que a instituição está associada, juntamente com outros cinco centros de investigação e universidades de Portugal e Espanha.As universidades de Aveiro, Vigo, País Basco e Complutense de Madrid, bem como o Centro de Investigação Valenciano IATA-CSIC são os restantes parceiros, que estão a desenvolver outras aplicações da nanotecnología aplicada à industria alimentar. O próprio desenvolvimento da nanopelícula contou com a participação de investigadores de universidades cubanas e brasileiras. Essa abertura levou a que algumas empresas do Brasil estejam a estudar a hipótese de aplicar a invenção aos frutos tropicais que exportam para a Europa, para melhorar a sua qualidade.
fonte: Público
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