A Alemanha enfrenta mais um capítulo do passado recente com alegações de que empresas farmacêuticas ocidentais usaram com cobertura da polícia política mais de cinquenta mil pessoas do antigo Estado comunista como "cobaias humanas" na década de 1980.
A revista Der Spiegel publica na última edição uma lista das grandes companhias farmacêuticas da Alemanha, da Suíça e dos Estados Unidos que mantinham ligações com a antiga ditadura da República Democrática da Alemanha (RDA) para testes de medicina, muitas vezes sem o conhecimento dos pacientes.
De acordo com a revista - que refere documentos oficiais da polícia política da ex-RDA - muitas pessoas morreram durante os testes médicos, entre as quais crianças e pessoas com problemas de alcoolismo.
As grandes companhias farmacêuticas ocidentais, muitas das quais são atualmente produto de fusões de várias empresas, já disseram que trabalharam nestes casos da ex-RDA mas de acordo com os padrões legais da época.
Os apelos pela transparência total têm sido mais insistentes no sentido de se conhecerem as ligações do antigo departamento da Segurança do Estado (STASI), a polícia política da Alemanha de Leste, para fazer ganhar dezenas de milhões de marcos alemães ao país comunista, antes da queda do Muro de Berlim em 1989.
"Foi um vergonhoso acordo Alemanha-Alemanha" em que foram produzidos lucros nos dois lados do Muro de Berlim, disse Roland Jahn, Comissário dos arquivos da STASI e jornalista na ex-RDA, ao semanário Zeit na edição publicada hoje.
Um membro do partido ecologista Volker Beck, na oposição, pediu esta semana uma investigação completa sobre a "sistemática violação de padrões médicos e legais em testes promovidos pelas farmacêuticas na ex-RDA".
O ministro da Saúde, Daniel Bah apelou às farmacêuticas para financiarem um inquérito enquanto o Hospital Charite de Berlim anunciou que vai investigar os arquivos para que o assunto seja clarificado.
O comissário para os assuntos relacionados com a antiga Alemanha de Leste, Christoph Bergner, disse quarta-feira que prometeu "apoio financeiro" ao projeto do Hospital Charite, sem ter referido o montante envolvido.
A revista Der Spiegel escreveu que foram realizados mais de 600 testes, incluindo ensaios sobre pressão sanguínea e drogas para a depressão em mais de 50 hospitais, de acordo com documentos do Ministério da Saúde, do Instituto Farmacêuticos da Alemanha de Leste assim como documentação da STASI que nunca froam publicados.
"A RDA tinha condutas para estudos clínicos comparáveis aos dos países ocidentais, incluindo aos dos Estados Unidos", disse a responsável pela Associação da Indústria e Investigação Farmacêutica, Birgit Fischer.
Algumas das grandes companhias contactas pela France Press disseram que concordam com um inquérito sobre a questão.
fonte: Diário de Noticias
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