Ahmose-Meryet-Amon, filha do faraó Seqenenre Tao II, terá morrido com cerca de 40 anos
Não fumava e tinha uma posição social que lhe permitia ter uma boa alimentação e viver sem o stress de quem trabalha. Mesmo assim, a princesa Ahmose-Meryet-Amon, filha do faraó Seqenenre Tao II, poderá ser o primeiro caso conhecido de aterosclerose – uma doença cardiovascular crónica. Hoje seria candidata de eleição para um bypass coronário.
Uma análise à múmia da princesa egípcia filha do último faraó da 17ª dinastia surpreendeu os investigadores que, perante as suas possibilidades sociais, não esperavam encontrar sinais desta patologia coronária. O grupo de investigadores norte-americanos diz mesmo ser o primeiro caso conhecido de aterosclerose na história, revelado 3500 anos depois, e que será por isso a estrela da Conferência Internacional de Imagem Cardiovascular Não Invasiva, a decorrer em Amesterdão, na Holanda.
A aterosclerose é um termo geral que designa várias doenças nas quais se verifica espessamento e perda de elasticidade da parede arterial e afecta as artérias do cérebro, do coração, dos rins, de outros órgãos vitais e dos braços e das pernas.
“Normalmente pensamos que as doenças das artérias coronárias e do coração são consequência do estilo de vida moderno, fundamentalmente porque aumentaram nos países em desenvolvimento à medida que se ocidentalizaram. Mas os nossos resultados colocam em causa a percepção de que a aterosclerose é uma doença da vida moderna”, comenta Gregory S. Thomas, director do departamento de Cardiologia da Universidade da Califórnia, em comunicado.
A descoberta vem na sequência de um trabalho de um grupo de investigadores que está a estudar os vasos sanguíneos de 52 múmias do Antigo Egipto. Segundo adianta o The Journal of The American Medical Association, só foi possível realizar o estudo em 44 múmias, já nas restantes não havia já condições. Mesmo assim, em 20 casos foram detectadas acumulações de cálcio nas paredes dos seus vasos sanguíneos – na maioria em pessoas que morreram na casa dos 45 anos, não tendo sido encontrado em quem morreu perto dos 35 anos.
“Apesar de relativamente comum noutros vasos vasculares, a aterosclerose nas artérias coronárias só foi encontrada em três das múmias investigadas, mas era claramente visível na princesa Ahmose-Meryet-Amon”, diz um comunicado da Sociedade Europeia de Cardiologia.
Sinais em duas artérias principais
Os vestígios mais antigos pertenciam à princesa Ahmose, que se estima ter vivido em Luxor entre os anos 1580 e 1550 antes de Cristo e que terá morrido com pouco mais de 40 anos. Graças a alguns exames feitos através de Tomografia Axial Computadorizada (TAC), foi possível comprovar que a múmia apresentava sinais de aterosclerose em duas das três artérias coronárias principais, explica Gregory S. Thomas, adiantando que se fosse hoje teria sido sujeita a uma cirurgia de bypass.
A descoberta reacende o debate sobre as causas destas patologias, já que a princesa não teve contacto com muitas situações que são hoje apontadas como factores desencadeadores. De todas as formas, segundo o investigador e o seu colega de equipa Adel Allam, da Universidade de Al Azhar, no Cairo, devido ao seu estatuto social, Ahmose provavelmente comia mais carne, manteiga e queijo do que os comuns egípcios – estando por isso exposta a quantidades de sal elevadas, já que era desta forma que se conservavam os alimentos.
Mas adiantam que a alimentação não é o único factor explicativo, estando a investigar-se cada vez mais causas genéticas ou mesmo possíveis “respostas inflamatórias às frequentes infecções de parasitas”, recordando que em casos de problemas imunitários, como é o caso de doenças como o VIH/sida, a predisposição para doenças coronárias aumenta. Já Randall C. Thompson, outro dos co-investigadores, salienta que os seres humanos têm predisposição para a aterosclerose “pelo que importa tomar as medidas adequadas e necessárias para atrasar” a patologia.
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