domingo, 4 de outubro de 2015

O tratado criado há quase 50 anos para proteger a vida extraterrestre


Mesmo que os cientistas quisessem agora ver os sais hidratados que lá descobriram, não podiam. O Curiosity ia contaminar o local.

A água propriamente dita, em estado líquido, ainda não foi encontrada em Marte, mas a NASA lançou esta semana uma bomba que anda lá perto: a descoberta de indícios de que ela de vez em quando corre por lá, durante a primavera e o verão marcianos, mesmo que em pouca quantidade. É isso que mostram os sais identificados numas estruturas geológicas ali encontradas. Afinal é a água que as faz assim, estriadas. E onde existe água, há maior probabilidade de existir vida, como afirmou a própria NASA. O problema é que ir lá à procura dessa eventual vida marciana implica o risco de contaminação do local e da hipotética vida "indígena". E isso tornou-se agora um problema concreto, do presente e já não do futuro.

Depois de se saber da existência de sais hidratados naquelas estruturas geológicas seria lógico despachar para lá a toda a velocidade - ou pelo menos à velocidade possível - o robô Curiosity, que está em missão no Planeta Vermelho desde 2012, à procura de indícios de vida no passado de Marte. Essa é, no entanto, uma decisão que a NASA, embora gostasse, está proibida de tomar, porque, infelizmente, o Curiosity não passou pelos procedimentos de esterilização necessários para se poder cruzar com hipotéticos microrganismos marcianos sem os contaminar com a "dedada" terrestre. Um tratado internacional que regula a exploração espacial desde 1967 prevê, justamente, que os Estados envolvidos em atividades espaciais têm de evitar possíveis contaminações em ambas as direções: de lá para cá, mas também de cá para lá.

O tratado foi aprovado no âmbito das Nações Unidas, abarcando a exploração espacial - e "incluindo a Lua e outros corpos celestes", como se lê no título -, numa época em que as atividades espaciais se desenrolavam no contexto da Guerra Fria e estavam transformadas numa corrida encarniçada entre Estados Unidos e União Soviética. A decisão de Kennedy de ir à Lua é, aliás, anterior à aprovação desse tratado, que estabelece princípios para a utilização pacífica do espaço e enuncia, no seu ponto nove, a necessidade de prevenir as contaminações.


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