Representação do lagarto-rei ANGIE FOX/AFP
Fóssil encontrado há décadas foi agora identificado como espécie nova de lagarto gigante que viveu há quase 40 milhões de anos, numa altura em que a Terra era bem mais quente.
O vocalista dos The Doors, Jim Morrison, acaba de ficar imortalizado na história paleontológica do nosso planeta. Um fóssil de um lagarto gigante que viveu há quase 40 milhões de anos foi agora identificado e baptizado com o nome do icónico cantor, que morreu em 1971. A vida deste réptil, ou que se conhece dela, vem descrita nesta semana num artigo da revista Proceedings of the Royal Society B.
“Sou o Rei Lagarto. Posso fazer o que quiser”, escreveu o vocalista dos The Doors na letra da canção Not to touch the earth, que faz parte de um poema maior que Morrison intitulou A celebração do lagarto. Mais de 40 anos depois da morte do cantor, em 1971, um lagarto ganhou o seu nome: Barbaturex morrisoni.
A espécie já não existe, foi descoberta pelo fóssil encontrado no distrito de Sagaing, no centro da Birmânica, num estrato geológico com cerca de 37,2 milhões de anos. Quando este estrato se formou, a Terra era dois a cinco graus mais quente do que hoje, o suficiente para não haver gelo nos pólos.
O Barbaturex morrisoni ficou com o nome comum de lagarto-rei graças aos seus 1,8 metros e 30 quilos. É um tamanho surpreendente para um lagarto herbívoro. “Hoje, os répteis e os mamíferos coexistem na maior parte dos locais da Terra. O que é interessante no lagarto-rei é que era um grande herbívoro a viver e a competir com outros mamíferos herbívoros”, explica Russel Ciochon à BBC News, um dos autores do artigo que pertence à Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.
Já se encontraram fósseis de grandes lagartos e hoje o dragão de Komodo continua a viver em algumas ilhas da Indonésia. Russel Ciochon explica que estas espécies são carnívoras, em vez de competirem com os mamíferos herbívoros, alimentam-se deles. Por isso, o lagarto-rei é tão especial. “O seu grande tamanho protegia-o de muitos caçadores. Mas não há dúvida que seria caçado pelos mamíferos predadores da altura”, defende o cientista.
O cientista e outros colegas encontraram o fóssil na Birmânia durante a década de 1970. Mas os ossos não foram estudados na altura e o fóssil ficou esquecido durante décadas no Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia. Há uns anos, Jason Head, do Museu Estadual de História Natural do Nebrasca, da Universidade Nebrasca-Lincoln, e Patricia Holroyd, do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, voltaram a olhar para ele.
Ao estudar as mandíbulas e os dentes fossilizados, Jason Head compreendeu que estava diante de um réptil pertencente a um grupo de herbívoros que hoje são muito mais pequenos, como os dragões-barbudos e camaleões. “Quando comecei a estudar os seus parentes modernos reparei o quão grande este lagarto era”, disse Jason Head num comunicado de imprensa da Universidade Nebrasca-Lincoln. Tal como nos dragões-barbudos, os ossos deste fóssil mostravam que tinha sulcos na mandibula, que dariam suporte ao tecido mole, produzindo pregas de pele na zona do queixo que se parecem com barba.
O tamanho e o aspecto físico explicam parte do nome científico da espécie. Barbaturex significa um rei com barba. Já morrisoni é uma referência directa ao nome do vocalista dos The Doors. “Andava a ouvir bastante The Doors durante esta investigação”, disse Jason Head. “Parte do seu imaginário musical incluía répteis e locais antigos e, claro, o Jim Morrison era o ‘Rei Lagarto’, por isso tudo se encaixou.”
Qual será então a razão para aparecer um lagarto herbívoro tão grande naquela altura? “Pensamos que o clima quente durante aquele período permitiu a evolução de um corpo muito grande e a capacidade de estes lagartos competirem com sucesso com os mamíferos herbívoros”, explicou o investigador.
Esta descoberta pode ajudar a compreender os ecossistemas actuais. “Nunca teríamos conhecimento disto olhando para os lagartos de hoje. Ao olharmos para o registo fóssil passado, podemos encontrar informação única sobre a origem dos ecossistemas modernos”, acrescentou.
Mas voltar a haver lagartos com este tamanho não parece provável mesmo com as alterações climáticas. “Estamos a transformar tão rapidamente a atmosfera que as alterações climáticas são provavelmente demasiado rápidas para que os sistemas biológicos se adaptem. Por isso, em vez de vermos o aparecimento e expansão de répteis gigantes, o que poderemos ver é a extinção das espécies de hoje”, refere Jason Head.
fonte: Público
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