sábado, 8 de junho de 2013

Como os galos perderam o pénis


O futuro pénis do galo, a rosa, durante o desenvolvimento embrionário, antes de regredir A.M. HERRERA E M.J. COHN/UNIVERSIDADE DA FLORIDA

Equipa descobriu que há uma morte celular programada durante o desenvolvimento embrionário.

O galo perdeu o seu pénis ao longo da evolução, assim como os machos de outras dez mil espécies de aves que têm pénis rudimentares ou não têm de todo. Agora, os cientistas conseguiram perceber o que se passa a nível do desenvolvimento embrionário do Gallus gallus: há uma morte celular programada que não permite que o seu pénis cresça. O artigo com a descoberta feita por uma equipa de investigadores do Instituto Médico Howard Hughes, em Maryland, nos Estados Unidos, foi publicado na revista Current Biology desta semana.

Apenas os machos de 3% de todas as espécies de aves desenvolvem um pénis capaz de penetrar na cloaca das fêmeas das suas espécies. Nesse grupo de espécies estão o pato, o ganso ou o cisne. Nas outras, a reprodução dá-se através do contacto entre as cloacas dos machos e das fêmeas.

Martin Cohn e a sua equipa foram tentar perceber o que acontecia durante o desenvolvimento destas aves. Para isso compararam os embriões dos galos com os dos patos-bravos durante o seu desenvolvimento.

“A regulação e o balanço entre a proliferação das células e a morte celular é essencial para controlar o crescimento e o desenvolvimento”, explica o cientista em comunicado. “Demasiadas divisões celulares e pouca morte celular podem levar ao crescimento em excesso ou desregulado, como no caso do cancro. Se o balanço vai na direcção contrária e há uma deficiência celular ou excesso de morte celular, então isso pode resultar no subdesenvolvimento ou até na ausência de um órgão.”

Quando olharam para o desenvolvimento das duas aves, verificaram que no início, o desenvolvimento do pénis acontecia normalmente nos galos. Mas a partir de uma dada altura esse crescimento parava e o órgão tornava-se rudimentar.

A equipa descobriu que este fenómeno era causado por um gene que se activava na ponta do futuro pénis do embrião do galo, o que não acontecia no pato-bravo. O gene, chamado Bmp4, codifica para uma proteína que leva à morte celular não deixando o órgão crescer.

“A nossa descoberta mostra que a redução do pénis durante a evolução das aves ocorre pela activação de um mecanismo normal que resulta no programa de morte celular, mas que aqui aparece num local novo, a ponta do pénis emergente”, explica Martin Cohn. Os cientistas experimentaram ainda impedir a expressão deste gene naquela região do embrião do galo e verificaram que os pénis cresciam normalmente nos embriões mutados.

A equipa não sabe qual a razão para este fenómeno ter surgido durante a evolução. O pénis é talvez o órgão com mais variações e com as formas mais bizarras entre os animais do reino animal. O gene Bmp4 é muito usado na formação dos órgãos e estruturas durante o desenvolvimento embrionário, e poderá ter aparecido aqui por acaso, não se obtendo nenhuma função objectiva. Mas a equipa sugere um resultado benéfico a nível destas espécies de aves em que os machos não têm pénis: como a fecundação se dá sem penetração, as fêmeas acabam por ter um maior controlo na escolha dos seus parceiros.

fonte: Público

Sem comentários:

Enviar um comentário