Em Malargüe, na Argentina, está situada uma das muitas antenas que recebem os dados enviados pelas sondas no espaço ESA/S. MARTI
Não nos contentámos com o planeta Terra e quisemos conhecer outros mundos. Para isso, delineamos longínquas viagens e temos descoberto planetas para lá da fronteira do nosso sistema solar.
Ao longo dos tempos, a nossa curiosidade cósmica foi aumentando e ultrapassando as fronteiras do nosso planeta. Que temperatura tem o planeta vizinho? Como é composta a sua superfície e atmosfera? Então, com toda a pompa e circunstância, construímos engenhos que viajam pelo espaço e nos têm tentado dar respostas. Há 20 anos, a missão Cassini propôs-se saber mais sobre o sistema de Saturno e termina esta sexta-feira a sua tarefa. Muitas missões começaram antes e outras tantas lhe sucederão.
Viajando no tempo, entre as muitas aventuras no espaço que nos marcaram estão as sondas Voyager 1 e 2, da agência espacial norte-americana (NASA). A Voyager 1 foi lançada a 5 de Setembro de 1977, e ao longo do seu caminho pelo sistema solar, passou por Júpiter e percebeu que a lua Io tinha vulcões activos. Também foi ela que tirou as primeiras imagens mais detalhadas de Júpiter, Saturno e as suas luas. Da Voyager 2, lançada a 20 de Agosto de 1977, chegaram-nos imagens de Neptuno. Comemora-se agora os 40 anos do seu lançamento.
As duas irmãs Voyager levaram algo especial com elas. “Afixada a cada uma há um disco de fonógrafo em cobre e com banho de ouro, com carga e agulhas e instruções para utilização”, descreve-nos o cientista Carl Sagan no livro Cosmos. Nesse disco vão sons da natureza, música, diferentes línguas e sons que representam a diversidade da vida na Terra. As duas “irmãs” estão agora nos limites do sistema solar.
Já a sonda Galileu esteve na órbita de Júpiter entre 1995 e 2003. Foi através desta sonda da NASA que se descobriu que é provável haver debaixo da crosta gelada e cheia de fissuras da lua Europa um imenso oceano salgado, o que sugeriu que ali existisse vida.
Falando de Júpiter e ainda no espaço, está a sonda Juno (da NASA). Foi lançada em 2011 e está desde 2016 a orbitar o maior planeta do sistema solar. No nosso vizinho Marte, está ainda em órbita a Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Italiana, desde 2003. Tem estudado a composição e a superfície do planeta vermelho.
E já se fazem planos futuros para novas missões. A ESA vai lançar em 2022 a sonda Juice, que irá viajar até três luas geladas de Júpiter. A sua chegada ao sistema de Júpiter está prevista para 2029. Na lua Europa, a sonda irá medir a espessura do gelo e identificar possíveis locais para uma descida à lua. Também a missão ExoMars, uma missão da ESA e da Rússia, depois de ter enviado em 2016 uma órbita para Marte e um módulo de aterragem (que se despenhou), terá uma segunda parte em 2020 com o envio de um robô.
Estes caminhos também vão dar ao Sol. E em 2018 vai ser lançada a Solar Orbiter (da ESA), para explorar o Sol, e a Parker Solar Probe (da NASA), para estudar mais especificamente a atmosfera da nossa estrela.
Foto A sonda Voyager 1 NASA
“Há um grande investimento no estudo do nosso sistema solar”, diz ao PÚBLICO o astrofísico Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade de Lisboa. “Isto está ligado aos mundos que andamos a detectar à volta de outras estrelas.”
Pedro Machado fala-nos dos exoplanetas. O primeiro exoplaneta foi descoberto em 1995, por Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra (Suíça), e estava a 50 anos-luz de distância. Hoje, já se descobriram mais de 3500, desde gasosos como Júpiter e Saturno, até rochosos tal como Mercúrio, Vénus e a Terra.
O astrofísico Nuno Santos, também do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade do Porto, procura exoplanetas e estuda as suas atmosferas. Neste momento, como já é possível detectar a existência de atmosferas em exoplanetas, pode-se estudar a sua composição química. “No entanto, o detalhe com que as medições são feitas não se compara à que conseguimos no estudo dos planetas do nosso sistema solar”, nota. “Por isso, grande parte dos modelos físicos usados provêm do estudo dos nossos vizinhos. Estes servem de base à compreensão do que se observa nos exoplanetas.”
No seu estudo de exoplanetas, o astrofísico tem utilizado dados das missões Kepler (da NASA) e Corot (da ESA). Avisa ainda, por exemplo, que no final de 2018 será lançada a missão CHEOPS(da ESA), que tem o objectivo de estudar os planetas extra-solares, e que, em 2026, está programado o lançamento da missão PLATO (da ESA). A equipa de Nuno Santos vai utilizar também dados destas duas missões.
E assim, com a descoberta de novos mundos, vamos saciando a nossa curiosidade cósmica.
fonte: Público
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