domingo, 29 de agosto de 2010

CO2 dos fogos equivale a 29 milhões de carros a fazer viagem Lisboa-Porto


Carbono Quercus alerta para a necessidade de melhorar a prevenção dos incêndios e pede maiores cuidados na selecção das árvores a utilizar na regeneração das florestas queimadas, de modo a minimizar efeitos provocados pelos fogos. Divergência de critérios também dificulta cálculo das emissões.

Os mais de 71 mil hectares de área florestal ardidos desde o início do ano levaram à emissão de cerca de 1,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente - uma medida que expressa a quantidade de gases de efeito estufa em termos equivalentes da quantidade de dióxido de carbono. Emissões que, segundo dados divulgados pela Quercus, correspondem a cerca de 29 milhões de veículos a fazer o percurso entre Lisboa e Porto por auto-estrada.

Segundo a associação, um dos problemas no cálculo das emissões prende-se com o tipo de área contabilizada. É que, diz Francisco Ferreira, "a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) considera apenas povoamentos florestais, ficando de fora as áreas de mato, que por vezes têm já um estado de desenvolvimento grande e uma capacidade de sumidouro importante".

Segundo estudos do professor José Cardoso Pereira, da Universidade Técnica de Lisboa, onde a Quercus se baseia, é estimada "uma média de biomassa presente nas áreas ardidas dos últimos anos (nove toneladas por hectare), que quando ardida emite 16 toneladas de CO2 equivalente por hectare". Assim, Francisco Ferreira frisa que "calculando apenas com base na floresta ardida até 15 de Agosto de 2010, e recorrendo aos factores de emissão da APA, as emissões de gases com efeito de estufa associadas aos incêndios florestais foram de 520 mil toneladas de CO2 equivalente".

Considerando o total de área ardida, que a 15 de Agosto correspondia a 71 687 hectares, e tendo por base os valores médios dos estudos do professor Cardoso Pereira, "o valor deverá ter atingido 1,1 milhões de toneladas de CO2".

Francisco Ferreira frisa que estes valores estarão "um pouco sobrestimados, dado que este ano a proporção de matos ardidos em relação a povoamentos foi maior do que em anos anteriores". Já "as 520 mil toneladas da APA estão abaixo do valor real".

Comparando com outros anos, mais concretamente com os de 2003 e 2005, em que a área ardida esteve bem acima da média da última década (102 mil hectares entre 2000 e 2009), a Quercus recorda que em 2003, ano com 425 mil hectares ardidos, "foi reportado à Convenção sobre Alterações Climáticas 10 milhões de toneladas de CO2 equivalente referente aos fogos em 286 mil hectares, afectando povoamentos florestais". Já em 2005, quando arderam 339 mil hectares, dos quais 213,5 mil em povoamentos, "as emissões reportadas foram de cinco milhões de CO2 equivalente".

A Quercus recorda que Portugal fez uma aposta clara em usar este sector para o cumprimento do Protocolo de Quioto, pelo que "no médio/longo prazo é necessário um melhor conhecimento científico das emissões associadas, maior capacidade de recolha exaustiva de dados e uma aposta numa melhor gestão florestal".

Segundo Francisco Ferreira, no período entre 2008 e 2012, "Portugal não pode exceder as 381,9 milhões toneladas de CO2 equivalentes", ou seja, uma média anual de 76,3 milhões. Em 2008, "Portugal reportou cerca de 75 milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa originados em todos os sectores".

Portugal, através de um conjunto de receitas de orçamento de Estado, criou um Fundo de Carbono, que "tem sido usado para comprar direitos de emissão através do mecanismo de desenvolvimento limpo ou compra a outro países através do comércio de emissões", diz Francisco Ferreira.


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