domingo, 22 de agosto de 2010

"Vivemos um défice ecológico e com recursos de que não dispomos"


Segundo a ONG Global Footprint Network, o planeta esgotou ontem os seus recursos disponíveis para este ano. O que é que isto significa?

A Global Footprint Network contabiliza os recursos naturais, como água ou terra, necessários para a satisfação das nossas necessidades. E também avalia a capacidade que o planeta tem de reciclar e recuperar desse consumo. Este resultado significa que a partir de hoje vamos consumir recursos que este ano já não estão disponíveis.

Estamos a hipotecar o planeta?

Sim. Vamos consumir recursos que não estão disponíveis porque o nosso estilo de vida pôs o planeta numa situação de stress. Na média global do mundo, precisamos de 1,4 planetas para satisfazer as nossas necessidades. Um planeta já não nos chega porque não dispõe de todos os recursos de que precisamos. O mais grave é que isso acontece quando ainda grande parte da população mundial não tem um nível de consumo elevado. E todos os anos está a ocorrer mais cedo. Em 2009 foi em Setembro, este ano é em Agosto. Isso justifica-se também por acertos que foram feitos no cálculo deste indicador.

É como se fosse um défice...

É um défice ecológico, pois vivemos com recursos de que não dispomos, tal como na crise financeira. Vivemos acima das nossas possibilidades.

Como é a situação portuguesa?

Para sustentar o seu estilo de vida e de consumo, Portugal precisa de recursos equivalentes a dois planetas. Na Europa, essa pegada ecológica é ainda maior. Tendo em conta que em 2050 haverá 9 mil milhões de pessoas e não os actuais seis, para que consigamos viver dentro dos limites do planeta temos de reduzir o consumo de recursos em 75%. Nos Estados Unidos isso deve chegar aos 90%.

Como se inverte essa calamidade se consumirmos sempre mais?

Tem havido alguns ganhos de eficiência. Primeiro começámos com os equipamentos, depois com as casas, os carros, a indústria. Mas, em termos globais, a produção e o consumo têm excedido esses ganhos. A pressão sobre o planeta está a aumentar. Quando vemos que os indicadores usados para medir a saúde da economia são o nível de consumo, percebemos que o actual modelo de desenvolvimento não favorece a viragem.

A crise é o momento oportuno para mudar?

Era a oportunidade de reconhecer que o modelo falhou e que, se formos mais regrados no consumo, temos menos problemas porque não gastamos o que não temos. Mas com o desemprego nenhum político tem coragem de ir por aí. A mensagem é oposta. Não estamos a perceber que os custos a longo prazo são irreparáveis. Se não tivermos recursos para ter economia, toda a própria sociedade se desmorona.


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