Cabeças-de-martelo estiveram muito perto da costa. Pescadores acabaram por apanhar um quando recolhiam as redes com cavalas. Especialista garante que espécie é inofensiva
Talvez tenha sido um cardume de cavalas que juntou ontem à tarde homens e tubarões no mesmo sítio. Quando o Arrifana passou a meia milha da praia da Salema, eles já lá estavam, calmamente a deliciar-se com o peixe que a tripulação da pequena traineira contava puxar para bordo. "Pela quantidade de barbatanas que contámos à superfície deviam ser uns vinte tubarões, mas debaixo de água parecia existir outros tantos" testemunhou ao DN André Dias, que, além de biólogo, se revelou um pescador exemplar ao apostar nas novas tecnologias para preservação do pescado a bordo.
Quando zarparam do porto de pesca de Portimão, com destino a águas de Sagres, o objectivo era o de todos os dias: pescar cavala, sardinha e carapau. Não esperavam, por isso, deparar-se com um cardume de tubarões. "O normal é avistar um ou outro à passagem das dez milhas, neste caso não chegava a uma milha da costa," explicou o biólogo.
Na praia ninguém se apercebeu de nada, nem tão-pouco o praticante de esqui aquático que deslizava a pouco mais de cem metros. "Não lhe dissemos nada porque vimos que se dirigia para terra."
André Dias lembra-se de acompanhar o pai em idas ao mar desde há 30 anos, mas sem memória de algum encontro com tubarões tão perto da costa. Quando chegaram a Sagres, lançaram as redes ao mar e também aí foram detectados tubarões, "um exemplar cabeça-de-martelo, com cerca de dois metros, entrou na rede quando o cardume de duas toneladas de cavalas já estava cercado e pronto ser içado para bordo".
Mas não só a tripulação do Arrifana contactou com o predador dos oceanos. Ao Comando da Zona Marítima do Sul têm chegado vários relatos, de pescadores e turistas, que dizem ter visto tubarões ao longo da costa algarvia.
"Não vamos intervir. Já reunimos com biólogos do Zoomarine e da Universidade do Algarve que nos garantiram tratar-se de animais inofensivos", declarou ao DN Cruz Martins, capitão do Porto de Portimão e Lagos.
Contactado pelo DN, o especialista em tubarões João Pedro Correia corroborou que "os cabeça- -de-martelo não devem assustar ninguém". Trata-se de animais nervosos que fogem mal sentem a presença humana, "nem têm dentes para rasgar, apenas para triturar os pequenos peixes".
Ainda segundo o especialista, é difícil perceber porque se estão a aproximar tanto da costa, o habitual é serem vistos a partir das cinco milhas mas também admite que os tubarões "cobrem todas as distâncias", sendo assim normal a existência destes agregados de espécimes. E faz questão de lembrar que "a maioria do que é dito em relação aos tubarões não passa de mitos criados por um filme de 1976 que está completamente fora de moda".
João Pedro Correia lembra que várias espécies de tubarões estão a extinguir-se e garante que não há memória de alguma vez algum tubarão-martelo ter atacado um ser humano. Daí o desafio que se atreve a lançar: "Se souberem da existência de agregados desta espécie, tentem mergulhar e fotografar porque se trata de uma oportunidade única."
fonte: DN
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