Jornalista: Jorge Luiz Calife
Semana passada, a notícia de que o governo brasileiro criou um formulário para relatórios sobre OVNIs criou uma sensação na imprensa. Nada de novo, apenas uma mudança na documentação. Os relatos de coisas estranhas no céu continuaram a ser enviados para o Arquivo Nacional, e os mais antigos já podem ser consultados.
Nosso Ministério da Aeronáutica está um pouco atrasado em relação ao primeiro mundo. A Força Aérea dos Estados Unidos criou em arquivo assim, o projeto Livro Azul, em 1951, por aí. E a Inglaterra investiga essas coisas desde que a tripulação de um bombardeiro Lancaster foi seguida por um OVNI durante a Segunda Guerra Mundial.
Na ocasião, o primeiro ministro inglês, Winston Churchill ordenou que a história fosse mantida em segredo, para não abalar a confiança do povo inglês em suas forças armadas. O fato é que, durante as missões de bombardeio contra a Alemanha nazista e o Japão, as tripulações das Fortalezas voadoras viram muitas coisas estranhas, que eles chamavam de "foo fighters" - nome que acabou batizando uma banda de rock.
A sigla moderna OVNI (de Objeto Voador Não Identificado) foi criada no período pós-guerra, por volta de 1947, ano em que ocorreu o célebre Caso Roswell e o piloto Thomas Mantell morreu perseguindo uma dessas coisas no céu do Kentucky.
Dúvida: Fotos podem ser fabricadas
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No Brasil, as visões de OVNIs começaram naquela época e houve até um avistamento sobre Pinheiral, no mesmo ano. Quem queria saber tudo sobre OVNIs não precisava consultar o Arquivo Nacional, era só comprar a revista "O Cruzeiro", que saia toda semana e tinha uma série de reportagens sobre o assunto. Os repórteres e fotógrafos da revista ficaram tão empolgados com os chamados discos voadores que acabaram criando um.
Em 1957, o fotógrafo Ed Keffel voltou da Barra da Tijuca com fotos sensacionais de um disco prateado, evoluindo sobre a praia. Naquela época, a Barra era um deserto de lagoas e dunas de areia, não existiam os prédios nem os condomínios atuais - estes só surgiram na década de 1970. O local era tão deserto que atraía casais de namorados.
Foi lá que a Norma Benguell foi estuprada no filme "Os Cafajestes", um dos maiores sucessos do cinema brasileiro naqueles tempos. O fato é que Keffel foi mandado para a Barra para fazer fotos de casais em atitudes comprometedoras e voltou com um disco voador.
As fotos eram tão nítidas, tão perfeitas que foram reproduzidas em revistas do mundo inteiro. Até hoje é possível encontrá-las em livros estrangeiros sobre ufologia.
O fotógrafo só revelou a verdade décadas depois, antes de morrer. Ele explicou que não encontrou casais de namorados naquela tarde e não queria voltar para a redação de mãos vazias. Arranjou um pires de alumínio e pediu que um colega o arremessasse para o céu. Surgiu assim, o primeiro OVNI "made in Brasil".
A fraude de "O Cruzeiro" prejudicou outra história parecida. A Marinha brasileira tinha um navio escola, um belo veleiro branco chamado Almirante Saldanha. O navio fazia cruzeiros pelo Atlântico Sul com uma tripulação de aspirantes de marinheiros. Em 1958, o fotógrafo Almir Baraúna acompanhou um desses cruzeiros até a ilha da Trindade, e ficou ancorado lá por alguns dias. Baraúna estava no convés quando viu os marujos gritando e apontando para o céu. Um OVNI tinha surgido por trás de um dos picos da ilha e fazia evoluções em plena luz do dia.
Baraúna disparou sua câmara fotográfica, sem nem mesmo ajustar o foco. As fotografias foram autenticadas pelo Ministério da Marinha e mostram um objeto elíptico, no formato de uma esfera muito achatada, movendo-se sobre as rochas vulcânicas da ilha. As imagens saíram na primeira página de todos os jornais, mas o governo, preocupado com a repercussão do incidente, não quis confirmar ou desmentir o avistamento. Mesmo testemunhado por toda a tripulação de um navio escola da Marinha.
Em 1987, tive a oportunidade de conversar com o fotógrafo no Rio de Janeiro. Baraúna jurou que as fotos eram autênticas e comenta que parecem fora de foco, porque foram feitas as pressas, sem tempo de ajustar a câmara, uma antiga Rolleiflex em formato de caixa.
Recentemente uma amiga da família de Baraúna contou que as fotos da ilha da Trindade também eram fraude, e que o OVNI teria sido feito com duas colheres. Mas não explicou porque nem os marinheiros do navio, nem o Ministério da Marinha desmentiram a história, em 1958.
Hoje, com as câmaras digitais e os telefones celulares é muito mais fácil captar imagens de coisas estranhas no céu. Mas continua difícil separar o que é fraude, da documentação genuína.
fonte: Diário do Vale
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