O presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, numa conferência em 2007
O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) deve ser alvo de “mudanças fundamentais”, segundo uma comissão que passou a pente fino o principal farol científico para a política internacional contra o aquecimento global.
Num documento divulgado hoje, a comissão internacional de 12 peritos apontou debilidades no processo de revisão dos relatórios do IPCC, que são a base da sua credibilidade científica. Algumas conclusões desses relatórios, segundo a comissão, indicam graus de certeza sobre os impactos das alterações climáticas que não são suportadas por suficientes provas científicas.
“Probabilidades quantitativas (...) devem ser usadas para descrever a probabilidade de resultados bem definidos apenas quando há evidência suficiente”, escreve a comissão, nomeada pelo Conselho Inter-academias, que congrega 15 agremiações científicas dos vários quadrantes do globo. A avaliação agora concluída fora encomendada pela própria ONU, que criou o IPCC em 1988, juntamente com a Organização Meteorológica Mundial.
O IPCC vinha sendo alvo de críticas sobre a sua credibilidade, desde a descoberta de alguns erros no seu último relatório de avaliação das alterações climáticas, de 2007. O IPCC alertara, por exemplo, para a possibilidade de os glaciares dos Himalaias degelarem até 2035 – uma afirmação baseada em documentos que se equivocam na citação de um estudo, o qual falava da potencial fusão massiva das reservas de gelo em 2350.
A comissão afirma que o trabalho do IPCC “tem sido bem sucedido em geral e têm servido bem a sociedade”. Mas uma série de mudanças são sugeridas, incluindo a limitação do tempo de mandato do presidente da organização. O actual líder do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, está à frente da organização desde 2002. Pachauri disse hoje, numa conferência de imprensa, que a sua permanência à frente do IPCC está dependente do que os governos decidirem numa próxima reunião do organismo, em Outubro próximo. "Esta questão deve ser debatida entre todos os governos do mundo", afirmou Pachauri, numa conferência de imprensa, citado pela agência France Presse.
Segundo a comissão de peritos, o IPCC deve modificar a sua organização, de modo a melhorar o seu funcionamento e a sua comunicação pública. O processo de revisão dos relatórios também deve ser melhorado. O último relatório do IPCC recebeu 90 mil comentários de cientistas convidados a revê-lo. Num calendário apertado, “os autores nem sempre consideram cuidadosamente os comentários, potencialmente ignorando erros nos rascunhos dos relatórios que poderiam ser identificados”, conclui a comissão.
Ainda segundo a comissão, o IPCC tem sido essencial para “aumentar a consciência pública sobre as alterações climáticas, elevar o nível do debate científico e influenciar a agenda científica de muitas nações”. Mas, para continuar a desempenhar o seu papel, a organização tem de se adaptar continuamente a novas condições, resume o relatório hoje divulgado.
Para o director do Programa de Ambiente das Nações Unidas, Achim Steiner, o relatório “reafirma a integridade, a importância e a validade do trabalho do IPCC, ao mesmo em que reconhece áreas para melhorias, num campo em rápida mudança”.
fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário