sábado, 3 de setembro de 2011

Pessoas comuns em actos atrozes: experiência de Milgram faz 50 anos


Um dos primeiros voluntários da experiência de obediência utilizando a "máquina de choques"


O psicólogo apoiado em sua "máquina de choques", que, de facto, não possuía corrente eléctrica


Milgram foi fotografado no metro de Nova York. A imagem sem data foi tirada entre 1960 e 1978


Stanley Milgram na Universidade Harvard, nos Estados Unidos


Na foto sem data, um retrato de Stanley Milgram em seu escritório na universidade de Yale

No segundo semestre de 1961, 40 pessoas aceitaram participar numa pesquisa e aplicaram choques quase mortais em completos desconhecidos tão somente porque um professor - outro completo desconhecido para eles - deu ordens para que continuassem. A aparente sessão de tortura era, na verdade, uma experiência científica, e os choques, encenação de atores. As experiências de obediência de Stanley Milgram completam 50 anos em 2011 e continuam relevantes no estudo da natureza humana.

Na universidade de Yale, nos Estados Unidos, Milgram conduziu testes psicológicos para investigar como pessoas comuns e sem traços violentos podiam ser capazes de actos atrozes. Sua maior inspiração era tentar entender como pessoas que, até então, pareciam decentes e de bom caráter, podiam ter colaborado com os horrores do holocausto na Alemanha nazi. Milgram acreditava que qualquer pessoa, se submetida à pressão da autoridade, tem tendência a simplesmente obedecer.

A primeira experiência reuniu 40 voluntários homens que assumiam o papel de um "professor" que deveria fazer perguntas a um "aluno" e lhe dar choques quando ele errasse a resposta. O "aluno" era, na verdade, um ator contratado por Milgram que fingia levar choques cada vez mais potentes. Conforme o voluntário hesitava em seguir com as punições, um cientista que supostamente coordenava o estudo incentivava o "professor" a seguir com o processo.

Dos 40 participantes, 65% chegou a dar choques de 450 volts enquanto os "alunos" imploravam para que eles parassem. Em testes posteriores, a média de 65% sempre se manteve, inclusive em testes com mulheres e em outros países. Uma procura por "Experiência Milgram" no site YouTube retorna diversos vídeos de recriações da experiência.


Submissão à autoridade

Nunca houve um voluntário que tenha interrompido a experiência para ajudar o "aluno". Uma pequena percentagem de participantes recusou-se a continuar e deixou a sala, mas sem prestar auxílio ou denunciar os investigadores que supostamente electrocutavam pessoas.

De acordo com um artigo escrito pelo professor Thomas Blass, professor de psicologia da universidade de Maryland, nos EUA, Milgram recebeu fortes críticas de colegas logo após a publicação dos resultados. Eles julgavam a experiência excessivamente impactante para os voluntários, já que, mesmo sem ter dado choques verdadeiros, ele sentiam-se culpados e assombrados por suas próprias atitudes.

Stanley Milgram

Apesar de reconhecido mundialmente como um dos mais notáveis psicólogos de seu tempo, Milgram  formou-se em ciências políticas. Apenas após a formatura, ele quis trocar de carreira e candidatou-se a uma vaga de doutorado em psicologia na universidade de Harvard. Rejeitado na primeira tentativa, ele só foi aceito após completar seis cursos de psicologia em outras instituições de Nova York.

Sua experiência de obediência quase lhe custou a licença de psicólogo. Por um ano, ele foi investigado pela Associação Americana de Psicologia devido a questões éticos sobre sua pesquisa. Apenas quando seus colegas consideraram sua experiência válido, ele pôde entrar na associação. Milgram morreu em dezembro de 1984, aos 51 anos.

fonte: terra

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