sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A evolução ofereceu-nos excesso de confiança, hoje isso pode matar-nos


As guerras no Iraque podem ter sido provocadas pelo excesso de confiança

Ambição, moral, arrogância, persistência. Um dia o actor Will Smith disse que se quisesse iria ser Presidente e que é tudo uma questão de acreditar: Obama conseguiu, Bush também. Alguns podem chamar a isto excesso de confiança mas, segundo os modelos teóricos de Dominic Johnson e James Fowler, a natureza convidou o Homem a sobreavaliar-se em relação às suas capacidades e a evolução foi dizendo que sim, pelo menos até hoje.

A investigação feita pelos autores da Universidade de Edimburgo e da Califórnia, publicada agora na revista Nature, partiu de observações que mostram que o excesso de confiança está espalhado amplamente pela humanidade. As pessoas têm uma opinião de si próprias e das suas capacidades acima do normal, o que significa que têm uma leitura errada da realidade.

No artigo, os cientistas utilizaram a teoria dos jogos para testar se seria possível a evolução escolher populações que tinham uma ideia desvirtuada das coisas. Para isso fizeram simulações.

A mais simples coloca dois indivíduos a competir por um recurso em que há um risco e um ganho associado à competição. Cada indivíduo tem uma ideia da sua capacidade e da capacidade do outro. Mas há uma incerteza nesta avaliação da qual o excesso de confiança se serve e que pode fazer com que o mais fraco mas mais confiante em si próprio ganhe o prémio sem sequer haver luta.

O estudo concluiu que “as populações tendem a ter excesso de confiança, desde que os benefícios dados pelos recursos que estão em competição sejam suficientemente grandes, em comparação com os custos”, diz o artigo. Por isso, “o modelo mostra que é plausível que o excesso de confiança possa evoluir numa grande variedade de ambientes, assim como em situações que vai dar mau resultado”, disse em comunicado Dominic Johnson.

Estes resultados são “surpreendentes”, avança o investigador Francisco Santos. O modelo mostra que “os indivíduos que têm excesso de confiança acabam por ter maiores ganhos que os outros e os seus comportamentos espalham-se pela população”. Isto faz com que a “incorrecção seja uma vantagem evolutiva”, disse ao PÚBLICO o especialista em sistemas complexos, que trabalha na Universidade Nova de Lisboa.

O artigo mostra ainda que em situações em que embarcar nos conflitos tem um custo elevado, a selecção “favorece os indivíduos que pensam que as capacidades deles estão abaixo da realidade”, sublinha o cientista português. Ou seja, um indivíduo que se avalia de uma forma realista "nunca é selcecionado". 

Mas o excesso de confiança pode ter um preço. No artigo, os cientistas prevêem que esta característica, que terá sido útil até aqui, pode tornar-se “particularmente prevalente em domínios que têm um grande grau de incerteza inerente”. Exemplos: relações internacionais, gestão de conflitos, fenómenos imprevisíveis como as alterações climáticas, tecnologias novas, ou alianças com líderes desconhecidos. 

No passado, esta característica terá sido culpada pela Primeira Guerra Mundial, a Guerra do Vietname, a guerra no Iraque, a crise financeira de 2008, e a má preparação para fenómenos climáticos como o furacão Katrina ou as alterações climáticas, adianta o artigo. “Parece que estamos a torna-nos hiper-confiantes precisamente nas situações que são mais perigosas”, concluem os autores.

Francisco Santos, que estuda de perto a relação entre a percepção dos efeitos das alterações climáticas pelas pessoas e a atitude perante este fenómeno, dá mais uma pista. “Já se conseguiu mostrar que a contenção dos efeitos está directamente relacionada com a percepção do risco que as pessoas têm. O excesso de confiança pode ser um dos factores que contribuem para esse efeito”, disse.

fonte: Público

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