Os mais recentes vestígios, depois de estudados, voltarão a ser enterrados. Câmara pretende que a prospecção arqueológica, a desenvolver no futuro, não impeça a vivência na zona histórica.
A descoberta de um complexo público de banhos islâmicos, em Loulé, é vista pelo município como um filão cultural para atrair novos turistas ao Algarve.
A professora Susana Martinez, ligada ao campo arqueológico de Mértola, não tem dúvidas sobre a importância dos mais recentes achados, trazidos à luz do dia quando a câmara procedia à remodelação de rede de águas e esgotos. “Pode ter a certeza de que estes banhos islâmicos são únicos em Portugal”, sublinha. Mas, para já, não vão ficar acessíveis ao público, porque se trata de estruturas que estão muito frágeis e necessitam de ser consolidadas.
Uma parte deste património — constituído por banhos quentes, tépidos e frios — já era conhecida desde há meia dúzia de anos. O que agora aconteceu foi o alargamento das descobertas desses vestígios para o exterior da habitação que continha esses banhos.
O imprevisto sucedeu, recentemente, quando uma máquina abria uma vala para colocar uma caixa de águas pluviais no largo D. Pedro I. As arqueólogas do município detectaram depois, numa das praças onde se realiza o Festival Med, tanques e vestíbulos (pátios), que se encontram no seguimento do complexo dos banhos islâmicos públicos que tem estado a escavar há alguns anos.
O presidente da Câmara, Vítor Aleixo, manifesta o desejo de prosseguir o projecto arqueológico, colocando enfâse no sector turístico. “Vamos musealizar a área e dessa forma pretendemos valorizar a oferta cultural da região”. Para já, destaca, foi dado “mais um passo” no sentido de conhecer a cidade, fundada no final do período da ocupação islâmica.
A cultura, diz o autarca, é "um domínio em que Loulé se pretende afirmar”. Por seu lado, Susana Martinez, professora das Universidades de Coimbra e do Algarve, salienta a importância da descoberta, lembrando que “há outros banhos islâmicos, conhecidos na Península [Ibérica], mas estes em Portugal são únicos”, sublinha. Razão pela qual manifestou empenho em apoiar, através do centro de investigação de que faz parte, o projecto que está ser levado a cabo pela secção de arqueologia do município algarvio. “Não se trata de fazer investigação, por investigação. A arqueologia tem de servir as populações, é esta visão que partilhamos com a equipa de Loulé”, sublinha.
A chefe de divisão de Cultura do município, a arqueóloga Dália Paulo, diz por seu lado que há vontade de dar continuidade às prospecções, mas admite algumas dificuldades. “Não queremos que a arqueologia impeça a vivência da praça [largo D. Pedro I]”, lembrando, ao mesmo tempo, que daqui por alguns meses se realiza mais uma edição do Festival Med.
Por isso mesmo, explica, após registo e estudo, estes vestígios do passado islâmico voltarão a ficar longe da vista. “Não nos choca que seja reenterrado [o complexo balnear], porque está muito frágil e precisa de ser consolidado”. Entretanto, a caixa de águas pluviais que foi metida dentro da estrutura vai ser desviada para outro local, por forma a não comprometer os vestígios arqueológicos.
Futuramente, a Câmara de Loulé pretende integrar os banhos islâmicos na lista de estruturas do mesmo género existentes na Península Ibérica, nomeadamente em Granada. Nesse sentido, diz a chefe de divisão de Cultura, está em estudo um plano para “envolver e repensar toda a zona histórica”. O próximo Quadro Comunitário de Apoio é visto como um instrumento que pode apoiar a concretização de um programa integrado de reabilitação e valorização do centro histórico que, como sucede em outras cidades, perdeu habitantes e caminha para a degradação.
fonte: Público
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