Fragmentos do crânio de um homem moderno (Laura Shackelford)
Foi descoberto o fóssil mais antigo de homem moderno que viveu no Sudeste asiático. Os pedaços de crânio que se encontraram numa gruta no Laos têm cerca de 63.000 anos, sendo 20.000 mais antigos do que qualquer outro fóssil de homem moderno descoberto no Leste asiático. A descoberta foi publicada nesta segunda-feira na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
O homem moderno, a nossa espécie, surgiu na África Equatorial entre há 200.000 e 150.000 anos. Nas dezenas de milhares de anos seguintes, o Homo sapiens foi povoando a Terra e substituindo os humanos mais arcaicos em cada local, como o Neandertal na Europa.
Na Ásia, os mais antigos registos fósseis da existência do homem moderno datavam de há cerca de 40.000 anos, no Norte da China. Este fóssil seria um testemunho mais recente do homem moderno que teria chegado àquela região há mais tempo. Pelo menos, de acordo com os dados genéticos dos povos asiáticos de hoje, ou com os vestígios arqueológicos do homem moderno que se encontram na Austrália – uma colonização que teve de passar pela Ásia –, e que datam de há cerca de 60.000 anos.
Mas a equipa internacional liderada por Laura Shackelford, da Universidade Illinois, nos Estados Unidos, e por Fabrice Demeter, do Museu Nacional de História Natural, em Paris, na França, descobriu um fóssil que se aproxima da data que se pensa para esta chegada à Ásia. O fóssil, composto por um conjunto de fragmentos de um único crânio, apresenta as características fisionómicas do homem moderno. A datação química do osso indica que o crânio tem cerca de 63.000 anos.
“É um fóssil particularmente antigo do homem moderno naquela região”, disse Shackelford, em comunicado. “Existem outros fósseis de homem moderno na China ou em ilhas do Sudeste asiático que podem ser da mesma idade, mas ou não se consegue ter uma datação precisa ou não mostram características definitivas de homem moderno. Este crânio está muito bem datado e tem características muito conclusivas de humano moderno.”
Os vários fragmentos de ossos estavam a 2,5 metros de profundidade no solo da gruta de Tam Pa Ling, no Nordeste do Laos. A gruta tem 69 metros de comprimento e 24 de profundidade. Ao redor dos ossos não havia mais nenhum vestígio humano. Os sedimentos que rodeiam o crânio são alguns milhares de anos mais novos do que os ossos, mas a equipa justifica esta discrepância defendendo que os fragmentos só foram parar ali arrastados pela água, muito tempo depois da morte do homem.
Esta descoberta contraria a ideia estabelecida de que a migração humana se deu totalmente pela costa até à Austrália e que as populações não entraram continente adentro. “Este fóssil indica que a migração para fora de África e para o Leste e Sudeste asiático ocorreu de forma relativamente rápida e que, uma vez lá, o homem moderno não se limitou ao ambiente que já conhecia”, disse a cientista. “Tendo em conta a idade, os fósseis nesta região podem ser os antepassados directos dos primeiros povos que migraram para a Austrália. Mas também pode ser verdade que o Sudeste asiático era um cruzamento que levava a vários caminhos migratórios.”
fonte: Público
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