quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Línguas indo-europeias teriam surgido no que hoje é a Turquia


Pesquisa busca solucionar mistério da origem do idioma. Especialistas analisaram vocabulário e distribuição geográfica de 103 dialetos.

Origem de boa parte das línguas faladas mundo afora — do português ao híndi na Índia, passando pelo persa no Irão, alemão e inglês, num total de mais de 400 idiomas e dialetos usados por cerca de 3 biliões de pessoas —, o indo-europeu e suas raízes ainda é objeto de acirrada discussão entre os linguistas.

Enquanto alguns defendem que ele surgiu há 9 mil anos com os primeiros agricultores na região da Anatólia, hoje Turquia, outros acreditam que ele é originário de tribos de pastores nómadas que viveram nas estepes ao Norte do Mar Negro cerca de 5 mil anos atrás.


Difusão da palavra para "mãe" na Europa e como os cognatos se parecem


Difusão da palavra "três"


Difusão da palavra "água"

Agora, numa tentativa de solucionar a dúvida, investigadores pegaram emprestado um método normalmente usado para identificar o vírus original de uma epidemia, conhecido como filogenética, para revelar o berço da família das línguas indo-europeias, com os resultados favorecendo a teoria dos agricultores da Anatólia.

Com base no vocabulário e distribuição geográfica de 103 línguas indo-europeias atuais e extintas, os  investigadores liderados por Quentin Atkinson, um biólogo evolucionário da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, analisaram as mudanças sofridas por algumas palavras, como “mãe”, “três” e “água”, quando comparadas com o que se acredita ser a raiz original em indo-europeu.

Eles então atribuíram valores para as palavras que mantiveram a semelhança entre si, conhecidas como cognatas, e as que passaram por alterações, numa abordagem similar às mutações sofridas pelos genes de um vírus ao longo de uma epidemia.

Somando dados históricos que levaram à ramificação de novas línguas — como a queda do Império Romano, cujo latim vulgar deu origem aos idiomas latinos de hoje (português, espanhol, francês, italiano e romeno, entre outras) — e modelos das migrações das diferentes populações humanas, os investigadores puderam então montar uma árvore da evolução desta família de línguas, voltando no tempo até chegar ao “paciente zero” na Anatólia.

— Creio que apresentamos o melhor estudo de caso até agora sobre de onde as línguas indo-europeias vieram — diz Atkinson. — E, ao mesmo tempo, também mostramos que as línguas podem ser usadas para retraçar a história do homem no tempo e no espaço.

Mas os achados de Atkinson, publicados em artigo na edição desta semana da revista “'Science”, não foram suficientes para convencer os linguistas adeptos da hipótese de que o indo-europeu foi criado pelos nómadas das estepes da Ásia.

Segundo eles, o primeiro pecado do novo estudo é focar apenas no vocabulário, isto é, na morfologia das palavras das línguas analisadas, deixando de lado outros importantes dados linguísticos, como sintaxe e fonética. Além disso, eles criticam o que chamam de excesso de inferências e premissas usadas na análise.

— Há coisas no artigo que são simplesmente arbitrárias — afirma Victor Mair, especialista em línguas da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.

Outros críticos apontam ainda a falta de evidências arqueológicas que suportem a hipótese da origem agrícola da família de línguas indo-europeias. De acordo com eles, a hipótese de que o indo-europeu foi criado pelos nómadas das estepes asiáticas é apoiada por diversos achados, como locais de sepultamento, que podem ser datados de forma confiável.

Outro argumento deles é a existência de diversas palavras no vocabulário das línguas indo-europeias como “roda”, “rédea” e “eixo” relacionadas ao uso de carruagens puxadas a cavalo, o que não seria possível antes da invenção destes equipamentos, cujos mais antigos foram datados de 3.500 a.C..

— Vejo a evidência dos veículos com rodas como o trunfo sobre qualquer árvore evolucionária — avalia David Anthony, arqueólogo do Hartwick College, que estuda as origens dos povos indo-europeus.

Atkinson, por sua vez, defende que os próprios arqueólogos encontram dificuldades para ligar suas descobertas a culturas em particular:

— Analisar a pré-história humana não é fácil. É como segurar uma tênue vela sobre um abismo escuro, então temos que usar toda informação que conseguirmos.


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