sexta-feira, 23 de julho de 2010

Há sinais do princípio e fim de uma acção no nosso cérebro


Em todas a acções sequenciais ou movimentos não inatos

Dois investigadores descrevem num artigo da Nature, publicado hoje, os circuitos neuronais que estão na base da aprendizagem de acções sequenciais e na execução de tarefas. Apoiando-se no exemplo de alguém a tocar piano, Rui Costa e XI Jin falam sobre a experiência que os ajudou a detectar os sinais das células que marcam o inicio e o fim de uma acção. A pesquisa pode ajudar doentes com Parkinson ou Huntington que têm dificuldades nestas áreas.

“Em todas a acções sequenciais ou movimentos não inatos – como conduzir um carro ou tocar piano – há um grupo de células no nosso cérebro, nos circuitos neuronais dos gânglios basais, que são activadas nos momentos que marcam o início e o fim de uma tarefa”, conta Rui Costa. O investigador principal do Programa Champalimaud de Neurociências no Instituto Gulbenkian de Ciência assina com Xin Jin, do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, National Institutes of Health (EUA), um artigo na Nature onde se fala dos circuitos neuronais que estão na base da aprendizagem de acções sequenciais e da execução de tarefas.

O trabalho de investigação começou há três anos e envolveu experiências com ratinhos. Um grupo de ratinhos “tocou piano” durante vários dias, enquanto se avaliava a actividade das células nos gânglios basais que projectam (“comunicam”) para o núcleo do estriado e para a estrutura cerebral denominada Substantia Nigra. “Já se sabia que a degeneração de células dopaminérgicas que projectam para o estriado estava mais associada à doença de Parkinson e que as células do estriado (que projectam para a Substantia Nigra) se encontram ligadas à doença de Huntington. O que não se sabia é que estas células desenvolviam este tipo de actividade start stop ou de iniciação/conclusão”, esclarece Rui Costa.

O objectivo era que os ratinhos aprendessem a acção de tocar oito vezes numa tecla para, desta forma, conseguir a recompensa: uma solução de sacarose, um doce. E o que os dois cientistas perceberam é que, dentro das cabeças dos animais, entre as células (dopaminérgicas) havia um grupo que era activado no início e no fim da “peça musical”. Apesar de já ter sido estudada antes a importância destas células na aprendizagem e execução de acções sequenciais, estava por explorar o papel que tinham especificamente no arranque e finalização de uma tarefa. Olhando para os cérebros dos ratinhos quando desempenhavam uma acção sequencial (como tocar numa tecla oito vezes), perceberam que na mesma região cerebral existiam células que eram activadas no início de uma acção e outras no momento de a terminar. Como se acendessem a luz verde para o sinal de avançar e o vermelho para a altura de parar.

"Nós vimos que a sinalização do início e término de uma actividade desenvolve-se durante a aprendizagem e uma interferência genética que conduza à inactivação destes sinais impossibilita a aprendizagem de novas acções. Estes resultados permitem-nos avançar hipóteses sobre um possível mecanismo que explica por que os pacientes com Parkinson e Huntington, que perderam neurónios nessas áreas cerebrais de sinalização, têm dificuldades de aprendizagem e execução de tarefas”, refere Xin Jin, num comunicado enviado sobre este artigo.

“Sabemos que estas células morrem nestes doentes”, acrescenta Rui Costa, arriscando que hipóteses de intervenção: “podemos tentar estimular electricamente outras células para fazer esta activação, ou seja, uma possível estratégia é tentar uma estimulação eléctrica de start e stop”. Outra, admite o neurocientista, seria ir pelo caminho das populares células estaminais e, “neste caso, a estratégia seria substituir estas células por outras capazes de entrar neste circuito e fazer este papel”.

fonte: Público

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