Rio tem 200 a 500 vezes mais contaminação do que seria desejável
O rio Douro está poluído porque há linhas de água contaminadas a drenar constantemente no estuário e porque as ETAR não funcionam como deviam. A contaminação causa doenças nos humanos e tem até mudado o sexo a peixes e a moluscos.
Molhes do Douro desviam poluição para o alto mar e é por isso que as águas têm águas próprias para banhos. Descargas não controladas de esgotos e ribeiros fétidos alimentam a comtaminação do rio
“O estuário do Douro está hiperpoluído”, adverte Adriano Bordalo e Sá, hidrobiológo do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), no Porto, que há 25 anos estuda o troço de 21,6 quilómetros que vai da barragem de Crestuma-Lever até à foz.
No ICBAS, fez-se contabilidade e os dados mais recentes têm poucos dias: “Temos entre 200 a 500 vezes mais contaminação fecal do que a que nos permitiria ter bandeira azul na barra do Douro”, afiança o cientista.Essa poluição tem a principal origem nas descargas de águas residuais domésticas do milhão de pessoas cujas casas drenam, oficialmente ou não, para o estuário do Douro.
Há esgotos e outros resíduos, como químicos presentes nos detergentes de uso doméstico, a chegar ao rio. Na urina humana, por exemplo, há vestígios de outros químicos, como a pílula contraceptiva ou antibióticos. Estes poluentes, aos quais se juntam, no mar, os anti-inscrustantes usados no casco dos navios e ainda hidrocarbonetos e DDT já causaram alterações detectáveis em espécies marinhas e de rio.
No Douro, foram encontradas taínhas e solhas que mudaram de sexo, salienta Bordalo e Sá. Verificou-se que as fêmeas ganharam características masculinas e, em alguns organismos, encontraram-se ovários e testículos, embora desenvolvidos. Na costa marítima, o mesmo se verificou na nucella, um búzio muito comum no litoral Norte de Portugal. Nas enguias, foram detectados problemas neurológicos e de crescimento.
Nas pessoas, várias doenças, algumas delas graves, podem ser causadas pelas bactérias, vírus e protozoários presentes na água. Todavia, se a possibilidade de contrair listeriose é remota, já são muito frequentes infecções na pele, nos ouvidos e nos olhos e diarreias.
E como está o Douro poluído por esgotos se os concelhos que confinam com o estuário (Porto, Gaia e Gondomar) possuem redes de saneamento básico e estações de tratamento de águas residuais (ETAR)? Por várias razões, refere o hidrobiólogo. Há, de facto, oito estações, mas poucas têm tratamento terciário dos esgotos (capacidade para desinfectar o efluente).
“A legislação prevê a qualidade física e química do efluente libertado pelas ETAR, mas não a qualidade microbiológica”, explica o cientista. Ou seja, mesmo passando pelas ETAR, esta água à qual se dá o título reconfortante de “tratada” vai carregada de bactérias e de vírus. Por outro lado, acrescenta, “as ETAR também são parte do problema, porque algumas não funcionam, como a de Rio Tinto, ou funcionam com grandes deficiências”.
A isto, junta-se a poluição arrastada por muitas das 92 linhas de água – desde rios como o Tinto ou o Sousa até ribeiros encanados que não se vêem – que drenam para o estuário. Destas, 52 estão em Gaia, 30 em Gondomar e 10 no Porto, os três concelhos banhados pelo troço final do Douro.
“Há zonas de Gaia, Gondomar e Porto que não estão ligadas a nada porque não há ETAR. Drenam ou para fossas gigantescas ou para a linha de água mais próxima”, descreve Bordalo e Sá, destacando os ribeiros que desaguam entre a barra e o Freixo como os que mais poluem.
fonte: JN
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