Fotografia © NASA
A NASA revelou o mistério das estrias escuras descobertas em 2011. O planeta vermelho tem água em estado líquido, uma descoberta que pode ajudar a perceber se existe vida.
"Não é o planeta seco e árido que imaginávamos no passado." Pelo contrário, existe água em estado líquido a correr nas crateras e vales de Marte, pelo menos nos meses de verão. Este era o grande anúncio que a NASA tinha guardado para ontem e que aumenta a possibilidade de existir vida no planeta vermelho.
Porém, a seguir aos festejos da nova descoberta, os cientistas da NASA estão já focados em ultrapassar o próximo obstáculo: perceber a origem desta água em estado líquido. Uma informação "interessante" que permitiria aos cientistas concentrar a procura de algum tipo de vida em Marte nos locais onde essa água existe, explica Mário Monteiro, investigador na área da origem e evolução de estrelas e planetas.
Na conferência de imprensa realizada ontem à tarde, a NASA revelou finalmente o mistério da origem das estrias escuras fotografadas em 2011. Através da análise destas linhas com infravermelhos encontraram sais dissolvidos em água nas paredes dos vales - sais que não estavam presentes antes do aparecimento destas linhas. A descoberta comprova a presença de água corrente salgada nos meses quentes.
Apesar de a água pura em Marte ser muito instável, transformando-se facilmente em gelo ou vapor devido à baixa pressão atmosférica, esta descoberta indica que "pelo menos é possível ter um ambiente habitável atualmente" no planeta vizinho, defendeu líder do projeto da NASA de Exploração de Marte, Michael Meyer.
Mas para começar à procura de vida, a equipa tem de descobrir de onde vem e para onde vai a água depois de passar em estado líquido pela superfície marciana. As hipóteses, para já, oscilam entre depósitos subterrâneos de água salgada ou gelada que sobe à superfície nas alturas mais quentes, ou então a condensação a partir de vapor de água no ar. O diretor do doutoramento em Astrofísica da Universidade do Porto, Mário Monteiro, acredita que esta descoberta "é uma pista para os locais onde se deve ver melhor, mas agora de outra forma", diz. Ou seja, quando os cientistas enviarem um novo Lander (componente destinado a aterrar no planeta) - algo que a Agência Espacial Europeia (ESA) se prepara para fazer - "deve enviá-lo para os locais onde existe água, daí a importância de perceber o seu ciclo", explica o investigador do Porto. "Seria interessante perceber o que acontece a esta água quando não está líquida", admire Mário Monteiro, lembrando no entanto que "ainda temos muito a aprender em relação ao clima de Marte". Elogiando o esforço que tem sido feito para perceber o que acontece durante os meses de verão em Marte - o planeta mais próximo da Terra e o mais parecido no que respeita a temperaturas -, o professor da Universidade do Porto acredita que este é apenas um ponto de partida para a busca de vida.
É certo que esta é uma grande vitória para a ciência, que há décadas tentava descobrir água em estado líquido em Marte. Até porque esta descoberta aumenta as hipóteses de existência de uma qualquer forma de vida ainda que microscópica nesse planeta.
Desde 2011 que havia suspeitas de que as linhas escuras visíveis nas imagens de satélite, que se formam nos meses mais quentes do ano marciano, na superfície do planeta se deviam a água corrente. Agora essa tese foi confirmada pela equipa de Lujendra Ojha do Instituto de Tecnologia do estado norte-americano da Georgia.
Na explicação de um mistério de Marte - como foi anunciada a conferência de imprensa de ontem -, Jim Green, diretor de ciência planetária da NASA, começou por explicar que "se recuarmos três mil milhões de anos e olharmos para Marte, Marte era muito diferente". A sua atmosfera era mais rica e existia um enorme oceano, exemplificou, "mas Marte sofreu grandes alterações climáticas e perdeu a sua água de superfície".
Um mito que caiu ontem: "Marte não é o planeta seco e árido que imaginávamos no passado. Hoje [ontem] anunciamos que, em algumas circunstâncias, encontrámos água líquida em Marte", afirmou Jim Green.
Água que foi possível descobrir graças às marcas que deixa na superfície. Linhas escuras que não são mais do que ribeiros que se formam na primavera, engrossam durante o verão e desaparecem no outono. As temperaturas mais quentes (quando Marte está mais perto do Sol) permitem a formação dessas linhas de água corrente. Marte tem uma órbita mais excêntrica do que a Terra, ou seja, a sua órbita ao redor do Sol tem um ponto mais próximo e um ponto mais longínquo do que o que acontece na Terra, gerando verões mais quentes e invernos mais frios.
Quando avistaram as estrias, os cientistas chamaram-lhe Linhas Recorrentes nas Encostas (RSL na sigla inglesa) para que o nome fosse descritivo e não influenciasse a investigação.
A água descoberta será muito mais salgada do que os oceanos terrestres, podendo ter uma aparência mais semelhante à da terra húmida. Não se sabe quão habitável será para micróbios semelhantes aos da Terra: depende da sua temperatura e da concentração dos sais.
fonte: Diário de Noticias
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