Estudo sugere que muitas abelhas não retornam às colmeias quando expostas a pequenas doses do pesticida
O Governo francês anunciou que vai proibir a utilização do pesticida Cruiser, comercializado pelo grupo suíço Syngenta, na sequência de estudos a sugerirem uma influência na mortalidade de abelhas.
A decisão, anunciada nesta sexta-feira, surge no mesmo dia em que as agências europeia e francesa para a segurança alimentar divulgaram pareceres sobre o assunto, defendendo a necessidade de mais estudos e regulamentação.
O Cruiser é um insecticida aplicado sobre as sementes, para evitar que a planta seja infestada por pragas nos primeiros dias de germinação. Dois estudos publicados na revista Science, a 30 de Março, procuraram avaliar o efeito de doses não-letais dos princípios activos contidos no pesticida sobre as abelhas. Um deles detectou que muitas não regressavam às colmeias, a níveis que poderiam pôr em risco a sobrevivência das colónias. O outro falava em problemas no ritmo de crescimento das abelhas e na produção das rainhas.
A Syngenta contestou o estudo, dizendo, num comunicado, que o Cruiser já foi utilizado em três milhões de hectares de cultura de colza (uma oleaginosa) na Europa “sem nenhum incidente” e que os estudos se basearam em doses de exposição irreais das abelhas ao pesticida.
Tanto a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, quanto o organismo francês homólogo (a Agência Nacional para a Segurança Sanitária, Alimentar, Ambiental e do Trabalho), afirmam também que as doses utilizadas experimentalmente são, para algumas abelhas, maiores do que aquelas a que os insectos estão sujeitos em termos reais.
No parecer divulgado nesta sexta-feira, a agência francesa nota, no entanto, que uma exposição natural mais elevada “não pode ser totalmente excluída” e que um dos estudos evidencia o efeito nefasto “sobre o retorno das abelhas às colmeias”. A agência sugere, por isso, que se faça mais investigação sobre este efeito e que seja feita uma “reavaliação, a nível europeu, das substâncias activas” contidas naquele pesticida.
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar sugeriu, por sua vez, repetir as experiências com outros níveis de exposição das abelhas.
Face a estes pareceres, o Governo francês decidiu iniciar um processo de proibição do pesticida no país. “Já notifiquei o grupo que comercializa o Cruiser de que pretendo retirar a aprovação para a sua colocação no mercado”, disse o ministro francês da Agricultura, Stéphane Le Foll, citado pelo jornal Le Monde.
“O parecer da Anses [sigla francesa para a agência nacional para a segurança alimentar] traz elementos novos e mostram claramente um efeito nefasto deste produto sobre a mortalidade das abelhas e vou levar em conta o que ali é dito”, acrescentou o ministro.
O grupo Syngenta terá agora 15 dias para se pronunciar.
fonte: Público
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