Especialistas acreditam que temos as melhores condições para detectar vida fora da Terra
Astrónomos e astrofísicos portugueses consideram a previsão exagerada.
Há ou não vida fora do nosso planeta? Ainda não se sabe. Mas actualmente temos as melhores condições para detectar esta possibilidade e também para contactar com extraterrestres, algo pode acontecer nas próximas duas décadas.
Isto é o que dizem os especialistas norte-americanos que se reuniram, durante o último fim-de-semana, na conferência SETICon 2, em Califórnia, EUA, avança o jornal espanhol ABC.
O encontro incidiu nas recentes conclusões do telescópio espacial KEPLER, da NASA, dedicado exclusivamente a procurar planetas semelhantes ao nosso e que desde 2009 ‘percorre’ sistematicamente milhares de estrelas ao nosso redor e que já descobriu 2300 exoplanetas (muitos deles ainda aguardando confirmação) onde não se exclui a possibilidade de qualquer forma de vida.
Segundo alguns dos participantes, o KEPLER permite analisar um grande número de planetas com algumas das condições necessárias para existência de vida.
“Há cerca de 500.000 milhões de planetas lá fora e nós pensamos que há outros 100.000 milhões de galáxias”, afirmou Seth Shostak, astrónomo do projeto SETI, lê-se no referido diário.
“Pensar que a Terra é o único lugar onde aconteceu algo interessante é um ponto de vista, no mínimo, ousado”, acrescenta.
Ao Ciência Hoje, Sérgio Sousa, do Centro de Astrofísica, Universidade do Porto, afirma que “é demasiado sensacionalista” prever que em duas décadas entraremos em contacto com vida extraterrestre.
“Mas é interessante ver que as pessoas interessadas em contactar extraterrestres estão atentas ao que se passa com os projetos e missões de detecção de planetas extra-solares como o KEPLER”, comenta.
Neste momento, o SETI continua à procura de sinais de vida extraterrestre e a maneira como o faz é procurar “quase aleatoriamente no céu”, na esperança de detectar o tal sinal, refere o astrónomo português.
Sérgio Sousa é investigador do Centro de Astrofísica, Universidade do Porto
As missões de detecção de planetas, como o KEPLER, explica, têm ainda “um problema sério” que reside no facto da grande maioria das suas detecções serem ainda “apenas candidatos” a planetas.
Estes candidatos têm de ser confirmados por outros instrumentos, como o ESPRESSO, onde Portugal contribui “fortemente” para a sua construção e que “vai permitir encontrar novos planetas e confirmar muitos outros como os detectados pelo KEPLER”.
De acordo com o especialista, “é essencial para o SETI que se identifique os planetas que se encontram na zona habitável, para aumentar significativamente a probabilidade de encontrarem o tal sinal”.
Assim, “em vez de andarem à procura ‘às cegas’, logo que os novos planetas sejam encontrados em zonas habitáveis vão poder concentrar as suas buscas em torno destes planetas”.
José Manuel Afonso, do Centro de Astronomia e Astrofísica, Universidade de Lisboa, também considera “bastante exagerada” a previsão de que haverá um contacto com vida extraterrestre em duas décadas.
“É verdade que os planetas descobertos fora do Sistema Solar são cada vez mais, e que progressivamente, à medida que a tecnologia e as técnicas de observação são melhoradas, somos sensíveis a planetas cada vez mais parecidos com a Terra”, isto é, com uma massa cada vez mais semelhante e a distâncias da sua estrela cada vez mais maiores, de tal forma que é esperado para breve a descoberta das primeiras ‘Terras’ a distâncias da respectiva estrela que permitam a existência de água líquida, explica ao Ciência Hoje.
Ilustração do sistema planetário Kepler-11 (Crédito: NASA/Tim Pyle)
“Aí passaremos a estar interessados em descobrir sinais de vida, o que de facto poderemos conseguir nos próximos 20 anos. Contudo, o salto para a descoberta de vida inteligente e capaz de comunicar connosco é enorme”, sublinha o investigador do Observatório Astronómico de Lisboa.
“Se os astrofísicos aceitam que a vida poderá ser comum no Universo, isso não nos diz nada sobre a existência de vida inteligente no Universo. E o tempo que demorará a descobrir isso será, quase certamente, muito maior”, conclui.
fonte: Ciência Hoje
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