A proteína C99 (a verde e azul), ligada ao colesterol (a preto, branco e vermelho)
Na doença de Alzheimer, ocorre a acumulação no cérebro de uma proteína que destrói os neurónios e degenera progressivamente as funções corporais em geral. Para sua surpresa, uma equipa de cientistas descobriu agora que o colesterol tem um papel importante na produção desta proteína - a beta-amilóide -, o que o torna um possível alvo para travar o desenvolvimento desta doença.
A descoberta é publicada nesta sexta-feira, revista Science, pela equipa que revelou a estrutura tridimensional de uma proteína que vai dar origem à beta-amilóide.
Não se conhecem as causas exactas da doença de Alzheimer, caracterizada por perda de memória, desorientação, depressão e deterioração das funções corporais. Só depois da morte de um doente de Alzheimer é que se comprova a doença, através da análise de amostras do cérebro, para verificar a presença de placas de beta-amilóide.
Numa situação normal, a proteína beta-amilóide é degradada continuamente, mas certas variações genéticas podem alterar esta dinâmica. “Qualquer coisa que diminua a produção da beta-amilóide pode ajudar a prevenir, ou tratar, a doença de Alzheimer”, defende um dos autores do estudo, Charles Sanders, da Universidade de Vanderbilt, em Nashville (Estados Unidos), citado num comunicado.
A equipa de Sanders analisou a proteína precursora da beta-amilóide (APP, a sigla em inglês). Em apenas dois passos (provocados por enzimas diferentes), a APP transforma-se primeiro na proteína C99, e depois na beta-amilóide.
Os cientistas revelaram agora como é a estrutura tridimensional da proteína C99, que está parcialmente imersa na membrana celular dos neurónios. Ao estudarem a C99, perceberam que havia um local nela onde o colesterol se ligava. “Há muito tempo que se pensa que, de alguma forma, o colesterol promove a doença de Alzheimer, mas os mecanismos não eram claros”, disse Sanders. “A ligação do colesterol à C99 talvez seja uma das maneiras de tornar a doença mais provável.”
A membrana celular é uma estrutura muito dinâmica. É constituída, na sua base, por duas camadas de moléculas de gordura que compõem o invólucro que dá forma às células. O que a equipa propõe é que o colesterol, ao ligar-se à proteína C99, permite que ela se desloque pela membrana celular e se dirija para regiões específicas das células se concentram muitas outras moléculas. E é aqui que existem as enzimas que, por sua vez, transformam essa proteína na beta-amilóide, que se acumula nas regiões do cérebro que controlam a memória e a aprendizagem, o que leva ao aparecimento da doença de Alzheimer.
A equipa pensa que, quando a C99 não tem colesterol à volta, ela fica em qualquer sítio da membrana celular. “Se pudéssemos desenvolver um fármaco que impedisse esta ligação, seria possível travar a proteína de ir para estes domínios”, refere Sanders. “Em vez disso, a proteína seria clivada [cortada] por uma boa enzima e não produziria a beta-amilóide.”
fonte: Público
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