terça-feira, 7 de dezembro de 2010

'Concorde' caiu por culpa de companhia americana


Continental Airlines vai recorrer depois de condenada a pagar 1,2 milhões de euros

A companhia aérea norte-americana Continental Airlines foi ontem condenada ao pagamento de 1,2 milhões de euros, depois de ter sido considerada responsável pela queda do Concorde, da Air France, a 25 de Julho de 2000. O tribunal considerou que houve "homicídio involuntário", depois da investigação ter dado como provado que foi uma tira de metal caída de um dos seus aviões que desencadeou o acidente de Paris, no qual morreram 113 pessoas (quatro no solo).

Do montante que deverá ser desembolsado, 200 mil euros dizem respeito à multa devida pela responsabilidade penal. O restante valor deverá ser pago como indemnização à Air France: 500 mil euros por "danos morais" e outros 500 mil por "prejudicar a imagem" da companhia francesa - que pedia 15 milhões de euros. A Continental Airlines já anunciou que vai recorrer da sentença do tribunal de Pontoise, no Norte de Paris, considerando que esta resulta de um julgamento "absurdo".

"Descrever a lamela de metal como a causa do acidente, e a Continental e um dos seus funcionários como os únicos culpados, mostra a determinação das autoridades francesas de desviar a atenção e a responsabilidade da Air France, que pertencia ao Estado no momento do acidente", refere o comunicado da companhia norte-americana. Esta sempre negou responsabilidades, alegando que o Concorde se incendiou antes de passar por cima do metal.

No banco dos réus sentavam-se também dois funcionários da Continental Airlines e três antigos responsáveis da aeronáutica francesa. Apenas o mecânico John Taylor, de 42 anos, foi condenado a uma pena suspensa de 15 meses de prisão. Foi ele que instalou mal a peça defeituosa no avião da companhia americana. Segundo o tribunal, o mecânico não devia ter usado peças de titânio para fazer as reparações no DC-10, porque se sabia que o metal era perigoso para os pneus dos aviões, devendo ter optado por um metal mais maleável, como o alumínio.

"Estou chocado com este veredicto", disse à CNN o advogado de Taylor, François Esclatine. "Ainda não tive hipótese de falar com o meu cliente, mas vou dizer-lhe que deve apelar do veredicto", acrescentou. O chefe de Taylor, Stanley Ford (71 anos), foi inocentado, assim como o antigo director do programa Concorde na Aérospatiale, Henri Perrier (81 anos), o seu colaborador Jacques Hérubel (75 anos) e um ex-dirigente da Direcção-Geral da Aviação Civil, Claude Frantzen (73 anos). Estes seriam responsáveis pela segurança do Concorde, assim como pela autorização de voo.

O fabricante do aparelho da Air France, a EADS, também foi considerado parcialmente culpado, tendo sido condenado a pagar 30% das indemnizações às famílias. Estas, no valor total de cem milhões de euros, foram pagas pelas companhia francesa e pelas seguradoras menos de um ano após o acidente. A Air France pode agora pedir parte do reembolso.

Os familiares dos cem passageiros (na maioria alemães que iam embarcar num cruzeiro) estiveram ausentes do julgamento, que decorreu entre Fevereiro e Maio. Segundo a AFP, apenas as famílias das quatro vítimas no solo (trabalhadores do hotel sobre o qual o voo AF 4590 caiu) e dos nove membros da tripulação (todos franceses) testemunharam.

Três anos após este acidente, o Concorde deixou de voar, não sendo já economicamente viável.

fonte: DN

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