terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Novos documentos confirmam que EUA protegeram criminosos nazis


Alguns nazis escaparam de ser julgados em Nuremberga

Relatório revela detalhes de como o serviço de inteligência dos EUA protegeu criminosos nazis após a Segunda Guerra. Diante da Guerra Fria, EUA passaram a estar menos interessados em punir tais criminosos já em 1946.

Documentos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas confirmam que, após a Segunda Guerra Mundial, autoridades aliadas protegeram antigos nazis e criminosos de guerra, caso provassem que poderiam ser úteis e cooperativos.

"Sem dúvidas, o advento da Guerra Fria outorgou à inteligência norte-americana novas funções, novas prioridades, e novos inimigos. Prestar contas com alemães ou com seus colaboradores tornou-se menos urgente. Em alguns casos, isso tornou-se até contraproducente", afirma o relatório divulgado na última sexta-feira (10/12) pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos.

"Apesar das variações, esses casos específicos apresentam um padrão: a questão de capturar e punir criminosos de guerra tornou-se menos importante ao longo do tempo."

O relatório denominado Hitler's Shadow: Nazi War Criminals, US Intelligence and the Cold War (A sombra de Hitler: criminosos de guerra nazis, inteligência dos EUA e a Guerra Fria), baseia-se em informação considerada confidencial até 2005 e veio a público graças ao Acto de Divulgação de Crimes de Guerra Nazis, um esforço de Washington com vista a uma posição mais crítica sobre seus próprios segredos.

O documento lança um olhar sobre uma série de antigos membros da SS e da Gestapo que escaparam da Justiça, com a tolerância dos Estados Unidos ou mesmo sua ajuda na fuga.

Guarda de Auschwitz protegido da extradição


Após Segunda Guerra, começou Guerra Fria

Rudolf Mildner, por exemplo, foi preso inicialmente numa operação à procura de criminosos de guerra que pudessem levar a um movimento clandestino de resistência nazi.

As autoridades norte-americanas sabiam que Mildner havia pertencido à Gestapo durante muito tempo, mas nunca o pressionaram para saber mais detalhes sobre crimes da Gestapo contra judeus ou outros grupos. Capturado e interrogado em Viena, as autoridades norte-americanas o consideraram "muito confiável e cooperativo".

No entanto, um olhar mais detalhado sobre seu passado revelou que ele ordenara a execução de 500 a 600 polacos no campo de extermínio de Auschwitz. Confrontado com as acusações, Mildner confessou e o relatório menciona que ele tentou racionalizar suas acções, defendendo que eram para "preservar a ordem e evitar sabotagem".

Posteriormente, países como a Polónia e o Reino Unido pediram a extradição de Mildner. Mas, de acordo com o relatório, "localizar e punir criminosos de guerra não estavam no topo das prioridades das Forças Armadas norte-americanas no final de 1946".

Acredita-se que autoridades dos EUA o protegeram da extradição e facilitaram até mesmo sua posterior fuga para a América do Sul, que se tornou um refúgio para muitos criminosos de guerra nazis fugindo da Justiça.

Planos de Hitler para a Palestina pós-guerra


Husseini negou cooperar com nazis

O material recentemente libertado também lança luz sobre os planos da Alemanha nazi no Médio Oriente, onde as lideranças do regime de Hitler estabeleceram estreitos laços com o Grande Mufti de Jerusalém, Amin Al-Husseini.

Husseini recebeu substancial apoio financeiro e logístico da Alemanha nazi, que pretendia usá-lo para o controle da Palestina, uma vez que a Alemanha tivesse derrotado o Reino Unido no Médio Oriente. Na época, Husseini e Berlim uniram-se principalmente por verem nos judeus um inimigo comum.

Os arquivos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas agora libertados definem que os Aliados sabiam o suficiente sobre o passado de Husseini para considerá-lo um criminoso de guerra. Temendo a perseguição, ele fugiu para a Suíça, onde as autoridades locais o entregaram à França.

Por temer agitação política na Palestina, o governo britânico foi contra levar Husseini a julgamento. Ele foi então morar na Síria e no Líbano, sempre refutando acusações de ter tido laços com a Alemanha nazi. Ele alegou que visitou Berlim somente para evitar a prisão pelos britânicos.

Ex-nazis em serviços de espionagem ocidentais

No começo deste ano, a Alemanha libertou documentos da Stasi que mostravam em detalhes como o serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental empregava antigos nazis e criminosos de guerra em sua base de pessoal. O serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental foi formado com a ajuda dos aliados.

Como o bloco soviético tornou-se o inimigo comum após 1945, diversos historiadores afirmaram que autoridades aliadas aceitaram amplamente que ex-nazis escapassem da Justiça, caso suas habilidades se provassem úteis para as novas frentes da Guerra Fria.

Autor: Andreas Illmer (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer


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