A GFAJ-1 vem transformar a procura de vida extraterrestre
Como dizia Carl Sagan, declarações excepcionais exigem provas excepcionais. A comunidade científica olhou para o artigo da Science publicado dia 2 de Dezembro sobre as bactérias que integravam arsénio no ADN, e não encontrou essas provas.
Tudo começou com o anúncio da NASA sobre uma conferência onde se iria revelar uma descoberta com implicações na procura de vida extraterrestre. A notícia baseava-se no artigo da Science sobre a bactéria GFAJ-1, natural do lago Mono, na Califórnia, um sítio rico em arsénio.
A astrobióloga Felisa Wolfe-Simon, do Instituto de Astrobiologia da NASA, primeira autora do artigo, colocou uma amostra desta espécie num ambiente de cultura rico em arsénio e verificou que as bactérias continuavam a crescer. Através de testes, a equipa percebeu que a GFAJ-1 era capaz de integrar o elemento e usá-lo para substituir o fósforo no ADN.
Toda a vida que se conhece na Terra é construída a partir de seis elementos: hidrogénio, carbono, oxigénio, azoto, fósforo e enxofre. Estes compostos formam maioritariamente as moléculas das células. Isto enviesa a forma como se procura vida extraterrestre. Um planeta que seja bom candidato terá características semelhantes ao nosso. A GFAJ-1 punha em causa esta assunção. Uma bactéria capaz de se alimentar de arsénio obrigaria a olhar para outros ambientes que podem proporcionar vida.
Assim que o artigo foi publicado, surgiram várias críticas de como a experiência foi conduzida. A cientista Rosie Redfield, da Universidade de British Colombia (Canadá) defendeu no seu blogue RRResearch que o meio com arsénio para as bactérias tinha fósforo suficiente para estas sobreviverem e alertou que quando se analisou o ADN, a equipa não limpou o suficiente as amostras e o arsénio encontrado poderia dever-se à contaminação do meio.
O escritor de ciência Carl Zimmer reuniu no seu blogue Discover o comentário de 13 cientistas que também não confiam na experiência. Hazel Barton, da Universidade de Kentucky do Norte, especialista em microbiologia de grutas, questiona o fundamento da teoria. "Se o organismo veio do lago Mono, que tem maiores concentrações de fosfato do que de arsénio, com que razão se adaptaria para criar um ADN com arsénio?" Outros cientistas argumentam a necessidade de uma análise de espectrometria de massa para determinar de facto quais os elementos que compõem o ADN, que não foi feito pela equipa.
Uma das interpretações generalizadas é que as bactérias continuam a aproveitar o fósforo existente no meio, enquanto tentam eliminar o arsénio. Uma "explicação mais parcimoniosa" seria uma "resistência ao arsénio (especialmente quando membros deste grupo [de bactérias] já são conhecidos por destoxificar na presença de grandes concentrações de arsénio)", explicou Barton.
Os autores não responderam directamente às críticas. E a própria NASA criticou o burburinho feito nos blogues e jornais, dizendo que a discussão deveria ficar nos jornais científicos. O coordenador do projecto, Ronal Oremland, da Inspecção Geológica dos EUA, disse na NASA que algumas das experiências sugeridas pelos críticos "valem com certeza a pena", citou a Wired. Não ficou surpreendido com as reacções, mas deixou um desafio. "A única forma de isto ficar esclarecido é as pessoas reproduzirem as experiências por si próprias."
fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário