sábado, 13 de julho de 2013

Já pomos flores nos nossos mortos há mais de 11 mil anos


Em Israel, equipa de cientistas diz ter encontrado as provas mais antigas do uso de flores em sepulturas.

Os natufianos viveram na região da antiga Palestina e do Sul da Síria há cerca de 11 mil a 15 mil anos e foram o primeiro povo a trocar um estilo de vida nómada por um mais sedentário, em acampamentos onde se mantinham durante todo o ano, formados por habitações circulares com fundações de pedra escavadas no chão. Além disso, foram os primeiros a enterrar os seus mortos em cemitérios tal como hoje os entendemos: espaços confinados onde iam sepultando, ao longo de gerações, os membros da comunidade. Num desses primeiros cemitérios, numa gruta no monte Carmelo, os humanos da nossa espécie, o Homo sapiens sapiens, terão começado a enfeitar os túmulos com flores, cujos vestígios foram agora descobertos por uma equipa internacional coordenada por Dani Nadel, da Universidade de Haifa, em Israel.

Antes dos natufianos, o Homo sapiens sapiens e os neandertais, humanos surgidos antes da nossa espécie, também enterravam os mortos e seguiam alguns rituais. O corpo era colocado numa posição flectida e por vezes escolhiam-se partes de animais para pôr junto dos mortos. Mas enquanto estas sepulturas eram feitas ao acaso e não em locais próprios para os mortos, os natufianos passaram a localizar os túmulos, por exemplo, à entrada das grutas e a usar esses sítios repetidamente.

Até agora, em vários locais habitados pelos natufianos, que eram caçadores-recolectores, encontraram-se mais de 450 esqueletos. Mas a última descoberta, na gruta de Raqefet, situada no monte Carmelo, uma das áreas mais importantes e povoadas pelos natufianos, no Norte de Israel, foi diferente. A equipa de Dani Nadel deparou-se com 29 esqueletos de bebés, crianças e adultos, tendo quatro sepulturas dois corpos.

Mais: nas sepulturas duplas, revelaram os cientistas na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences, havia marcas de plantas preservadas numa fina camada de lama que terá sido espalhada no seu interior. Antes de colocarem lá os corpos, os natufianos forraram as sepulturas com plantas floridas frescas, a fazer de cama.

A datação por radiocarbono de três dos esqueletos nas sepulturas forradas com flores apontou para idades entre os 11.700 e os 13.700 anos - pelo que a equipa considera que pomos flores nos mortos "há muito mais tempo do que se pensava". Só tem sido apontado um único caso de uma sepultura com flores mais antiga, mas a equipa diz que esse resultado é "questionável": na sepultura IV da gruta de Shanidar, que os neandertais deixaram no que é o actual Iraque há cerca de 60 mil anos, encontraram-se grãos de pólen junto ao esqueleto. A presença de buracos de roedores e dos seus restos ósseos na camada da sepultura leva, no entanto, a equipa a suspeitar de que essas plantas com flores foram levadas até lá por esses animais, que têm o hábito de armazenar sementes e plantas nas tocas.

Agora, as marcas nas quatro sepulturas na gruta de Raqefet não deixam dúvidas à equipa: numa delas, as impressões dos ramos floridos da Salvia judaica são bem visíveis. Esta planta de flores violeta é uma das três espécies de salva actualmente nas redondezas da gruta, refere um comunicado de imprensa da Universidade de Haifa. "Isto sugeriu aos cientistas que [esses] enterramentos ocorreram na Primavera, usando flores coloridas e aromáticas", acrescenta-se no comunicado.

Havia ainda juncos, mentas e árvores-de-judas. Qual o propósito de tudo isto? "As plantas floridas estimulam as emoções positivas e a resposta social nos humanos. É difícil determinar quando as pessoas começaram a usar flores em cerimónias públicas, devido à escassez de provas no registo arqueológico", lê-se no artigo.

Quanto aos cemitérios dos natufianos, representam uma organização social nova e complexa e podem ter ajudado a fortalecer certos grupos e a marcar a pertença a um território, realça a equipa. "A preparação cuidada das sepulturas e o uso comum das flores acrescentam outra perspectiva aos ritos funerários dos natufianos e ao seu impacto nos seus participantes de uma maneira que é familiar em muitas culturas modernas."

Entre nós, vemos agora as flores em cima das campas e às vezes o natural dá lugar ao plástico, que até pode ter muita cor - perfumado é que não é.

fonte: Público

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