A Nuvem Escura de Spitzer, na Via Láctea, com uma estrela gigante a formar-se no seu interior que poderá atingir 100 massas solares, foi observada com o maior detalhe de sempre pelo supertelescópio ALMA. ALMA (ESO/NRAJ/NRAO)/NASA/Spitzer/JPL-Caltech/GLIMPSE
A melhor vista de sempre do nascimento de uma estrela gigante, que poderá atingir 100 massas solares, acaba de ser obtida pelo supertelescópio ALMA.
Novas observações feitas por uma equipa internacional de astrónomos europeus com o supertelescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), localizado no Chile, revelam a melhor vista de sempre de uma estrela gigante a formar-se no seio de uma nuvem escura.
Esta região de formação de estrelas tem quinhentas vezes a massa do Sol - a maior alguma vez descoberta na Via Láctea - e ainda está a crescer. A estrela embrionária está a alimentar-se do material que cai para o interior e os astrónomos calculam que a nuvem escura dará origem a uma estrela muito brilhante com uma massa que poderá atingir as 100 massas solares.
As estrelas mais brilhantes e de grande massa da Via Láctea formam-se no interior de nuvens escuras e frias, mas este processo ainda não é bem conhecido. Os astrónomos usam a expressão "estrelas de grande massa" para se referir às estrelas que têm dez ou mais massas solares. É uma referência à massa da estrela e não ao seu tamanho.
A onze mil anos-luz de distância da Terra
A equipa de astrónomos utilizou o ALMA para fazer uma ecografia em microondas de modo a ter uma ideia mais clara sobre a formação de uma destas estrelas gigantescas, localizada a onze mil anos-luz de distância, numa nuvem conhecida como Nuvem Escura de Spitzer.
Existem duas teorias para a formação de estrelas de massa muito elevada. Uma sugere que a nuvem escura progenitora se fragmenta, criando vários núcleos pequenos que colapsam por si próprios, formando eventualmente estrelas. A outra é mais dramática: uma nuvem inteira começa a colapsar, com o material a deslocar-se rapidamente para o centro, criando nessa região uma ou mais estrelas de massa muito elevada.
Inicialmente, através de observações do Telescópio Espacial Spitzer da NASA e do Observatório Espacial Herschel da Agência Espacial Europeia (ESA), a nuvem escura revelou-se inicialmente como sendo um ambiente de filamentos de gás escuros e densos. Agora a equipa de astrónomos usou a sensibilidade única do ALMA para observar em detalhe, tanto a quantidade de poeira como o movimento do gás a deslocar-se no interior da nuvem escura, e descobriu a superestrela em formação.
Observações únicas com o telescópio ALMA
"As observações ALMA permitiram-nos ver pela primeira vez com todo o pormenor o que se passa no interior desta nuvem", explica Nicolas Peretto, astrofísico do Instituto de Investigação sobre as Leis Fundamentais do Universo (IRFU), de França, e líder da equipa que fez a descoberta.
Peretto, que é também investigador da Universidade de Cardiff (Reino Unido), acrescenta: "Queríamos ver como é que estrelas monstruosas se formam e crescem, e conseguimos. Uma das fontes que encontrámos é uma verdadeira gigante, é o maior núcleo protoestelar alguma vez encontrado na Via Láctea".
Este núcleo tem mais de quinhentas vezes a massa do Sol e as observações do ALMA mostram que muito mais matéria está ainda a ser atraída, aumentando ainda mais essa massa. Todo este material eventualmente colapsará para formar a tal superestrela que poderá atingir as 100 massas solares.
Uma em cada dez mil estrelas da Via Láctea
"Embora soubéssemos já que esta região era uma boa candidata a uma nuvem a formar estrelas de grande massa, não esperávamos encontrar uma estrela embrionária tão grande no seu centro", afirma Nicolas Peretto. "De todas as estrelas da Via Láctea apenas uma em cada dez mil atinge este tipo de massa".
Outro membro da equipa de astrónomos, a portuguesa Ana Duarte Cabral, investigadora do Laboratório de Astrofísica de Bordéus (França), sublinha que "as observações do ALMA revelam os detalhes espectaculares dos movimentos da rede de filamentos de gás e poeira e mostram que uma enorme quantidade de gás se está a deslocar para a região central compacta". Este fenómeno vem ao encontro da teoria do colapso global de uma nuvem estelar para a formação de estrelas de grande massa, em vez da sua fragmentação.
As observações foram obtidas quando se usava apenas um quarto da rede total de 66 grandes antenas do supertelescópio ALMA, o maior projeto astronómico de sempre, que está instalado no Deserto de Atacama, no Chile, a mais de 5000 metros de altitude, no Planalto de Chajnantor, nos Andes.
O ALMA é um projeto conjunto do Observatório Europeu do Sul (ESO) - organização a que Portugal pertence -, EUA, Canadá, Japão e Taiwan, e Peretto prevê que o supertelescópio "irá revolucionar o nosso conhecimento da formação estelar, resolvendo alguns dos problemas actuais e levantando certamente novas questões".
fonte: Expresso
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