Na categoria de Busca e Salvamento, o robô tem de ultrapassar vários obstáculos
Os fins de tarde dos 15 alunos que se tornaram campeões nacionais no Festival Nacional de Robótica 2012, em Abril em Guimarães, têm sido passados a treinar. Entre motores, baterias, rodas, placas e circuitos, os campeões, dos 11 ao 14 anos, testam os últimos pormenores das máquinas que vão levar ao RoboCup 2012, na Cidade do México, a partir desta segunda-feira e até 24 de Junho.
“Professor, o robô não se está a ligar”, diz um dos alunos na sala do clube de robótica do Agrupamento de Escolas de São Gonçalo, em Torres Vedras.
“O robô não está a passar o obstáculo, stôr”, lamenta outro. Jaime Rei, o professor que coordena o clube de robótica, não tem mãos a medir durante as sessões do clube para tantos pedidos de ajuda e conselhos para o campeonato mundial de robótica.
Na pista da categoria de Busca e Salvamento, treinam Rodrigo Santos e Duarte Silva. O seu robô está programado para seguir uma linha preta desenhada na pista. Tem de ultrapassar diversos obstáculos e subir por uma rampa até um piso superior. Uma vez aí, tem de reconhecer uma lata e transportá-la de volta até determinado sítio na pista. O objectivo último é, em caso de catástrofes naturais, usar robôs capazes de salvar as vítimas. “Além de gostarmos de programar, trabalhamos muito porque querermos obter bons resultados. O nosso objectivo nos treinos é tentar melhorar os robôs e as estratégias para as provas”, conta Duarte Silva.
O robô construído pelos dois alunos, de 14 anos, está com dificuldades em subir a rampa da pista de treino. Têm de pará-lo. Sozinhos e sem a ajuda do professor, apercebem-se de que o problema está na programação e procuram uma solução. Depois de alterarem a programação no computador, correm de novo para a pista. O robô começa a andar, ultrapassa os obstáculos e sobe a rampa.
Por trás deste espírito de grupo estão muitas horas de trabalho de alunos e professores. Ao todo, o clube tem 50 alunos e seis professores, convidados segundo as suas valências (Educação Visual, Inglês, Ciências Naturais e Dança). Durante as competições, a esta equipa junta-se a psicóloga da escola, que ajuda a controlar as emoções e ansiedade dos alunos. “A minha intervenção baseia-se no trabalho da motivação, das frustrações, alegrias e situações de stress a que os alunos estão sujeitos nos campeonatos”, diz Marina Freire, acrescentando que os alunos reagem assim porque vivem as competições muito a sério.
Os alunos das quatro equipas do Agrupamento de Escolas de São Gonçalo apuradas no campeonato nacional (que leva o maior número de equipas ao mundial) treinam sempre que possível. “Estamos na fase de treino e melhoramento dos robôs”, diz André Pires, de 12 anos, campeão nacional na categoria de Futebol Robótico júnior (dos 8 aos 14 anos) e que tem como objectivo, tal como os colegas, mostrar que Portugal tem “cartas a dar” no mundo da robótica.
Na categoria em que André Pires vai participar, os alunos entram em prova com dois robôs e as regras são semelhantes às do futebol humano: enquanto um dos robôs ataca e tenta marcar golo na baliza adversária, o outro é o guarda-redes e procura impedir que a bola entre na baliza. O objectivo de longo prazo para todas as competições de futebol robótico é que, durante o Mundial de Futebol de 2050, uma equipa de futebol robótico vença a equipa de futebol humano campeã do mundo.
Já Francisco Freixo, Inês Rei e Carolina Rodrigues sagraram campeões nacionais na Dança Robótica júnior. Nesta categoria, as equipas têm de fazer uma coreografia e dançar com os robôs forma coordenada e sincronizada. Além do desempenho dos alunos e robôs em palco, a prova é avaliada por uma entrevista em que os alunos explicam como construíram os robôs.
Robôs construídos de raiz
Desde 2007, o clube de robótica de Torres Vedras tem conseguido apurar equipas para os campeonatos do mundo. Os alunos do clube já passaram pelos Estados Unidos, pela China, Singapura, Áustria e Turquia. “O nosso sucesso deve-se muito à experiência que adquirimos nos campeonatos do mundo”, considera Jaime Rei. Os campeonatos mundiais são uma autêntica aula para professores e alunos, pois é lá que aprendem novas técnicas e tácticas, que depois aplicam nos robôs. “Acabamos por ter uma oportunidade que muitos não têm.”
Contudo, a robótica desenvolvida no Agrupamento de Escolas de São Gonçalo é diferente. Enquanto os robôs dos outros países são de “fábrica”, adquiridos às peças, os das escolas de Torres Vedras são construídos de raiz, sublinha Jaime Rei. “A nossa bitola é chegar à final em todas as modalidades.”Um dos aliciantes da robótica é os alunos verem resultados imediatos do seu trabalho. Além disso, a robótica permite-lhes desenvolverem uma série de competências cognitivas, como concentração, raciocínio, memória e cálculo mental. Também adquirem domínio do inglês, uma vez que os programas e os comandos dos robôs estão todos escritos nessa língua.
Francisco Freixo, de 13 anos e a frequentar o clube de robótica há três, é um dos que sonham ir para um curso na área das novas tecnologias. “Aqui aprendo muitas bases que me vão servir no futuro, principalmente a nível de programação”, diz.
Tal como ele, também Tiago Severino, Bernardo Rocha, André Pires, Duarte Silva e Rodrigo Santos foram campeões nacionais pelo Agrupamentos de Escolas de São Gonçalo e ambicionam vir a trabalhar nas áreas da robótica e da tecnologia. “Em Portugal, temos grandes potencialidades, com jovens inteligentes e qualificados, mas infelizmente não as utilizamos porque compra-se tudo feito”, desabafa Jaime Rei.
fonte: Público
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