O programa de vaivéns espaciais norte-americanos, que termina na sexta feira com o lançamento do Atlantis para a última missão, tornou "quotidiana" a ida ao Espaço, disse à Lusa o curador do Air and Space Museum de Washington.
"Como sociedade, não pensamos muito no lançamento de um vaivém. É parte normal das nossas atividades", um estado de rotina que contrasta com a rutura histórica causada pela aterragem do Apolo XI na Lua, em 1969, considera o curador e historiador espacial Roger Launius.
Com 30 anos de "shuttles", defende, "passou-se nas mentalidades a fronteira de que voar para o Espaço era uma coisa difícil".
Depois do Discovery, em fevereiro, e do Endeavour, em maio, o Atlantis, segundo mais jovem "shuttle" da frota da NASA, parte sexta feira para a sua missão final (STS-135), ao fim de 197 milhões de quilómetros percorridos, e de ter lançado as sondas planetárias Magalhães e Galileo, entre outros equipamentos de investigação espacial.
O programa Shuttle, lançado em plena Guerra Fria para assegurar o domínio norte-americano no voo espacial humano, envolveu por 135 missões ao Espaço, quase sete vezes mais do que a agência espacial norte-americana (NASA) tinha realizado até início da década de 1980.
Além disso, salienta Launius, naves como o Atlantis ou o Endeavour permitiram "expandir radicalmente o que é possível fazer no Espaço", instalando módulos de Estações Espaciais, fazendo reparações ou lançando satélites.
Decidido pela administração Obama, o fim do programa tem muitos críticos na sociedade norte-americana, até porque a capacidade dos vaivéns não está esgotada e a sua reforma implica no imediato que o transporte de astronautas seja agora feito através da agência espacial russa e de consórcios privados.
O curador do Air and Space Museum desvaloriza este hiato até ao desenvolvimento de um novo programa de voo espacial humano, e lembra até que entre os programas Apolo e Shuttle não houve lançamentos durante seis anos.
Dado o envelhecimento das naves, adianta, "tornou-se óbvio que o programa não era sustentável sem investimento significativo adicional para fazer melhorias e torná-lo mais seguro, na sequência do [desastre do] Columbia", que se desintegrou ao reentrar na atmosfera terrestre em 2003, o segundo acidente depois da descolagem fatal do Challenger em 1986.
Para Launius, são questões com que "toda a gente tem de debater-se quando tem um automóvel velho: continuar a pagar reparações ou trocá-lo", e a NASA tomou a segunda opção.
Apesar de o shuttle ter ultrapassado a barreira de dificuldade e tornado o voo espacial rotina, "é também caro", desincentivando igualmente a continuidade, sublinha o historiador espacial norte-americano.
"Podem debater-se se os custos do programa eram justificados, face àquilo que se conseguiu. Mas eu diria que valeu a pena", afirma.
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