Hipogeus do Mediterrâneo são estruturas funerárias
Investigadores do CEAM consideram suposições de Nuno Ribeiro (APIA) “sensacionalismo à Indiana Jones”
Declarações recentes do arqueólogo Nuno Ribeiro, da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), sobre a existência de estruturas funerárias com mais de dois mil anos nos Açores, estão já a ser fortemente criticadas pelo Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea (CEAM).
Em comunicado, Élvio Sousa (arqueólogo e doutorando em Arqueologia da Madeira e dos Açores) e João Lizardo (investigador em Arqueologia da Expansão Portuguesa e mestrando em Arqueologia), consideram as declarações um “erro” e “sensacionalismo” à maneira de “Indiana Jones”.
As supostas descobertas no arquipélago dos Açores foram apresentadas em Março no Congresso XV SOMA 2011, Arqueologia do Mediterrâneo, que se realizou na Universidade de Catânia, na Sicília (Itália), em conferência apresentada por arqueólogos da APIA.
Defenderam aí que tinham sido encontrados dezenas de hipogeus (estruturas escavadas na rocha usadas no Mediterrâneo como sepulturas) nas ilhas do Corvo e Terceira. Este tipo de monumentos tem dois mil anos, o que poderia indicar uma ocupação das ilhas anterior à presença portuguesa.
Na passada sexta-feira, afirmaram também ter localizado no Monte Brasil, em Angra do Heroísmo, novos sítios arqueológicos, alguns dos quais poderão ser templos dedicados a Tanit, deusa cartaginesa, provavelmente do século IV a.C.
Reunido hoje no Funchal, o CEAM acabou por redigir um texto onde declara que as informações avançadas pela APIA sobre os alegados achados “carecem de validação científica, são extemporâneas e desprovidas de um rigoroso aprofundamento disciplinar e interdisciplinar, nomeadamente na vertente da antropologia e dos estudos etnográficos que citam, desde os finais do século XIX, a utilização desse tipo de estruturas rochosas para fins agro-pecuários”.
Afirmam ainda que este “tipo de estruturas construídas em pedra são tipologicamente semelhantes a muitas outras existentes no arquipélago da Madeira, que têm vindo a ser estudadas e sujeitas à apreciação da opinião pública através de artigos em revistas do sector, intervenções em encontros especializados e referências na comunicação social”.
É certo, acreditam, que a sua origem e datação “poderão remontar, quando muito, à época do povoamento no século XV”. Uma “idêntica justificação” poderá aplicar-se às estruturas açorianas, “numa vertente da arquitectura ‘humanizável’ da paisagem insular e pela crescente necessidade de utilização dos recursos naturais na actividade humana”.
Sustentam ainda que as conclusões do arqueólogo Nuno Ribeiro, “além de precipitadas e tomadas em ‘visita de recreio’ aos Açores, são meramente sensacionalistas” e “descredibilizam a classe arqueológica, que se deve mover com dados fundamentados e com rigor na interpretação e na análise do passado”.
fonte: Ciência Hoje
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